Dos dias 18 a 26 de abril, será realizada, em Aparecida, a 50ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que comemora 60 anos de fundação em outubro. Durante a Assembleia, também será lembrado o 50º aniversário de início do Concílio Vaticano II. São comemorações significativas para nossa Igreja.

O Concílio Vaticano II, convocado e iniciado pelo Beato João XXIII, em 1962, foi continuado e concluído no Pontificado de Paulo VI, em 1965. Foi uma grande graça para a Igreja Católica, que se pôs à escuta da voz do Espírito Santo e se posicionou, de forma nova, diante dos tempos mudados e dos desafios novos. Permanecendo ela mesma, a Igreja quis dar um impulso renovado à sua missão e à sua presença no mundo.

O Papa João XXIII teria dito, abrindo as janelas da sua sala de trabalho, que era necessário deixar entrar um ar novo na Igreja… Mais tarde, traduzindo a mesma intenção do Concílio, o Papa João Paulo II convidou cristãos e não cristãos: “abrir as portas ao Redentor”; na passagem para o novo milênio cristão, o mesmo Papa convidou a levar o barco para o alto mar e “lançar as redes em águas mais profundas”…

A comemoração dos 50 anos do Concílio deverá suscitar uma série de iniciativas e reflexões na Igreja do Brasil e do mundo todo. É importante que nos demos conta do extraordinário significado, ainda atual, das grandes intuições e apelos do Concílio para vida da Igreja! Também será bom avaliar os frutos já produzidos nesses 50 anos de Concílio Vaticano II e perceber quanto caminho foi andado! Evidentemente, após o Concílio, também apareceram tensões internas na vida da Igreja, motivadas por interpretações divergentes sobre o mesmo Concílio; mas a Igreja não perdeu seu rumo, firme e unida em torno do sucessor de Pedro e do episcopado em comunhão com ele.

No quadro dessas comemorações, o Papa Bento XVI abrirá, em outubro, o Ano da Fé, para toda a Igreja. É outra iniciativa muito oportuna e promissora para a Igreja, da qual trataremos no momento oportuno! Desde já, temos a Carta Apostólica Porta Fidei (A Porta da Fé), com a qual o Papa promulgou o Ano da Fé, ainda em outubro de 2011, exatamente um ano antes de sua abertura oficial, em Roma. A Carta Apostólica já está disponível em português nas livrarias católicas.

Os 60 anos de existência da CNBB também representam um marco importante para a Igreja no Brasil e serão comemorados, justamente, durante a 50ª Assembleia Geral da Conferência, em abril deste ano. A CNBB, fundada 10 anos antes do início do Concílio, desempenhou um papel importante na Igreja e na sociedade brasileira durante esses 60 anos. Ainda durante o Concílio, e depois dele, sua atuação foi fundamental para a boa acolhida das decisões conciliares na Igreja do Brasil; no período da ditadura militar, seu papel na defesa dos direitos humanos e na reconquista das liberdades democráticas foi decisivo para a sociedade brasileira; nesses últimos tempos, a CNBB tem atuado na promoção da nova evangelização e se empenhou na defesa da dignidade humana, na garantia do direito à vida, e vida digna para todos, bem como na justiça social.

O tema principal da Assembleia Geral da CNBB deste ano é muito significativo: “Animação bíblica de toda pastoral”. É o mesmo que dizer que a Palavra de Deus deve ser a alma de toda vida da Igreja. De fato, a Igreja existe em função da Palavra de Deus – para acolher, praticar, testemunhar e anunciar esta “palavra da salvação”. Nem podia ser diferente: a Igreja vive para evangelizar, é orientada e conduzida por essa mesma Palavra que ela anuncia e da qual se nutre constantemente, para produzir os frutos de vida e esperança. A Palavra de Deus, em última análise, é o próprio Jesus Cristo – “Palavra de Deus que se fez carne e habitou entre nós”.

O tema do Sínodo de 2008 foi “a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”; depois, o Papa Bento XVI escreveu a bela e importante Exortação Apostólica Verbum Domini (A Palavra do Senhor), com a qual orientou e pediu que toda a vida e ação da Igreja tenham como alma, motivação e referência constante a Palavra de Deus.

Bento XVI tem repetido com frequência que a Igreja não é “autoreferencial”, mas está referida a Jesus Cristo, sua missão em favor do Reino de Deus e da ação do Espírito Santo. Por isso, ela não parte de uma palavra, mas da Palavra de Deus, a cujo serviço ela está: “Ai de mim, se eu não evangelizar”, dizia São Paulo. A Igreja é discípula, antes de ser missionária.

Que bom, no 60º aniversário da Conferência e na 50ª Assembleia Geral da CNBB, os bispos vão convidar novamente toda a Igreja do Brasil a acolher esse apelo e exortação. O fruto só pode ser promissor!

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo