Na Liturgia da Igreja, celebramos a obra da nossa redenção, isto é, o mistério Pascal de Jesus Cristo. Embora venere com especial amor e devoção a Virgem Maria ao longo do ano litúrgico, e, sendo seu culto um elemento intrínseco dentro das celebrações litúrgicas anuais, o culto mariano é essencialmente cristológico, pois tudo o que é relativo à Virgem Maria refere-se a Cristo e tudo depende dele.

O fundamento desse essencial amor e devoção à Mãe de Cristo é que, ela está indissoluvelmente unida à obra de salvação do seu Filho; em Maria, a Igreja vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção; em Maria contempla, qual imagem puríssima, o que ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser, como nos afirma a Constituição Sacrossanctum Concilium,103.

Entre as celebrações do Ano Litúrgico, o Advento é um tempo litúrgico marcadamente mariano e deve ser considerado como um momento particularmente adequado para o culto da Mãe do Senhor. Recordemos o que diz Paulo VI na Exortação Apostólica Marialis cultus:

Assim, no tempo do Advento a Liturgia, não apenas na altura da solenidade de 8 de dezembro, celebração, a um tempo, da Imaculada Conceição de Maria, da preparação radical (cf. Is 11,1.10) para a vinda do Salvador e para o feliz exórdio da Igreja sem mancha e sem ruga,  recorda com frequência a bem-aventurada Virgem Maria, sobretudo nas férias que vão de 17 a 24 de dezembro; e, mais particularmente, no domingo que precede o Natal, quando faz ecoar antigas palavras proféticas acerca da Virgem Mãe e acerca do Messias e lê episódios evangélicos relativos ao iminente nascimento de Cristo e do seu Precursor.”(Marialis cultus, 3)

Mais ainda, no tempo do Advento, a Virgem Maria é modelo do cristão que, na alegre esperança, aguarda a vinda do Senhor:

Desta maneira, os fiéis que procuram viver com a Liturgia o espírito do Advento, ao considerarem o amor inefável com que a Virgem Mãe esperou o Filho, serão levados a tomá-la como modelo e a prepararem-se, também eles, para irem ao encontro do Salvador que vem, “bem vigilantes na oração e… celebrando os seus divinos louvores”. Queremos observar, ainda, que a Liturgia do Advento, conjugando a expectativa messiânica e a outra expectativa da segunda vinda gloriosa de Cristo, com a admirável memória da Mãe, apresenta um equilíbrio cultual muito acertado, que bem pode ser tomado como norma a fim de impedir quaisquer tendências para separar, como algumas vezes sucedeu em certas formas de piedade popular, o culto da Virgem Maria do seu necessário ponto de referência: Cristo. (Marialis Cultus,4)

A Solenidade da Imaculada Conceição é um dia de festa de preceito. No Brasil, esta solenidade, possui um privilégio, concedido pela Santa Sé, para ser celebrada inclusive quando o dia 08 for um domingo. Neste ano de 2014, temos uma situação peculiar: dia 08 de dezembro será numa segunda-feira. Como é uma solenidade possui Primeiras Vésperas? A Missa da tarde ou da noite do domingo será da Imaculada Conceição? Não. Por ter o domingo do Advento prioridade sobre as solenidades da Virgem Maria, neste ano só se celebra a Imaculada Conceição, na segunda-feira, no dia 08 de dezembro, e não possui Primeiras Vésperas. Isto vale também onde a Imaculada Conceição é padroeira.

Pastoralmente, pode ser muito conveniente até o dia 17 de dezembro fazer memória da Virgem Maria, celebrando as missas votivas próprias para o tempo do Advento. A partir do dia 17 devem-se celebrar as missas próprias do dia, como vem no Missal Romano. Não se permite celebrar missa votiva ou para diversas necessidades. É a grande semana santa do Natal.

Celebrando a liturgia, inspiramo-nos na Virgem, a Filha de Sião, esperando a realização da promessa e, como Ela, que é modelo da Igreja, digamos ao Esposo: Vem, Senhor Jesus!

 

Padre Moisés Ferreira 
presidente da Comissão Arquidiocesana de Pastoral para a Liturgia