Ainda há pouco tive em mãos a obra “107 Invocações da Virgem Maria no Brasil”. Em outros países cristãos a Mãe de Jesus tem outras tantas centenas de apelativos. Os missionários portugueses incutiram profunda devoção a Maria. Haja vista o famoso poema à Virgem escrito, em 1563, por Pe. José de Anchieta. Mais de 37% de paróquia têm-na como Padroeira. Está na cultura e na alma brasileira. O próprio papa João Paulo II afirmou, aqui, em 1980: “O amor e a devoção a Maria são traços característicos da religião do povo brasileiro”.
Segundo Clodovis Boff esta devoção representa: o símbolo oficial da nação brasileira católica. O povo fiel volta-se para Ela como a “Mãe” que socorre em suas necessidades humanas. Aqui Ela é a Mãe puramente intercessora. É quando surge o grande desafio pastoral. Como Maria poderá ser apresentada e compreendida a partir do Evangelho e da eclesiologia? Como operar uma purificação e uma superação da imagem mariana enquanto puramente devocional?
A Conferência de Aparecida apresenta-a não só como a Mãe, mas como a Discípula e Missionária privilegiada de seu Filho. Ela não só O gerou no corpo, mas no próprio coração. Em seu documento conclusivo diz que se deve “aproveitar pedagogicamente o potencial educativo que – cultivando o amor pessoal à Virgem, verdadeira educadora na fé – nos leve a nos assemelhar cada vez mais a Cristo” (n.300). O documento (nos nn.266 a 272) traz uma meditação muito bonita sobre Maria. Conviria que os programas marianos de nossa “mídia” católica realizasse essa catequese, pois não basta anunciar o Cristo, mas é preciso centralizá-Lo. E mais: dar a indispensável conotação social sem a qual a devoção mariana torna-se insatisfatória. As antigas CEBs souberam apresentar esse lado de Maria como a Mãe que ajuda seu povo a libertar-se de todo tipo de opressão, apontando para o seu Magnificat e para suas ações.
A Mariologia do Vaticano II não é Mariocêntrica, mas Cristocêntrica. Não considera as prerrogativas de Nª Sª isoladamente, mas em relação a Cristo e à Igreja. O capítulo 8 da Lumen Gentium é a carta magna da Mariologia atual superando um marianismo fechado onde os dogmas marianos eram vistos isoladamente e não em relação à missão de Maria co-redentora junto a seu Filho. O magistério de João Paulo II vai nesta direção com seus documentos “Redemptoris Mater” e “Rosarium Virginis Mariae”. Paulo VI ao proclamá-la “Mãe da Igreja” salienta que Ela é, sobretudo, o protótipo do cristão na Fé, Esperança e Caridade (cf. Mariallis Cultus). O Concilio pedia uma renovação, teológica, bíblica, litúrgica e ecumênica na Mariologia. Igualmente a Liturgia deve ser teocêntrica e cristocêntrica. Sempre se afirmou que durante a celebração eucarística “as orações sejam sempre dirigidas ao Pai”. Poucas vezes se dirigem a Cristo (Kyrie, Glória, Oração da Paz). Logo, não é “liturgicamente correto” invocar os Santos ou Nossa Senhora com cantos ou Ave-Marias na celebração da Missa, o que não diminui nosso amor filial à Mãe de Cristo e Mãe nossa.
Pe. Expedito Miguel do Nascimento, S.J.
Administrador da Paróquia Nossa Senhora dos Remédios – Recife