Confira abaixo o artigo do especialista professor Riccardo Burigana, publicado em 21/01/2020, no site L’Oservatore Romano, intitulado: “Superando a intolerância nos passos de Helder Camara”. O artigo destaca também que no Recife são esperadas nos próximos meses, reuniões sobre diálogo ecumênico e inter-religioso. O professor doutor Riccardo Burigana dirige o Centro per l’Ecumenismo na Itália, sediado em Veneza, preside a Associazione Italiana dei Docenti di Ecumenismo e dirige o programa de Mestrado em Teologia Ecumênica e em Diálogo inter-religioso do Instituto di Studi Ecumenici San Bernardino, também em Veneza.  

Dom Helder Camara

“Somente com o diálogo se pode vencer a intolerância: essas palavras resumem o programa de reuniões locais, regionais, nacionais e internacionais pelo diálogo e sobre o diálogo que a cidade brasileira de Recife e a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), regida pelos jesuítas, se preparam para receber nos próximos meses. Trata-se de uma escolha muito precisa em favor do testemunho cristão, baseado na escuta e no acolhimento do Outro, como se recorda o arcebispo de Olinda e Recife, Antônio Fernando Saburido, presidente da Comissão Pastoral Regional de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso do regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos de Brasil (CNBB Nordeste 2).

Dom Fernando Saburido

O prelado enfatizou que o diálogo é o único caminho a seguir em tempos em que a proclamação da Palavra de Deus convive com uma generalizada e crescente intolerância, sobretudo no confronto sobre as tradições religiosas e os imigrantes. Por isto, o diálogo ecumênico e inter-religioso se torna uma ferramenta insubstituível, como o Papa Francisco repetiu tantas vezes, para estabelecer a paz com a qual é possível superar este clima. Em Recife, a atenção ao diálogo tem sido uma prioridade desde a época do episcopado do Monsenhor Helder Camara – que dirigiu a Arquidiocese de 1964 a 1985 – tanto que foi criado um Observatório das Religiões, situado na Unicap, o qual deu vida a uma série de iniciativas públicas e projetos de pesquisa que, partindo das raízes da cidade do Recife, sempre imerso em uma dimensão cosmopolita, vem alimentando o diálogo entre religiões e culturas. Assim, é definida uma cultura de diálogo que se opõe à onda de conservadorismo político e cultural que está na base dessa intolerância, tão presente na sociedade brasileira contemporânea também por conta das ações e posicionamentos hostis dos fundamentalistas religiosos e políticos contra o ecumenismo, os quais vêm estabelecendo uma leitura distante daquela oferecida pelo magistério da Igreja Católica, conforme formulado no Concílio Vaticano II. O método ecumênico de construção da unidade e de respeito à diversidade, conforme enfatizado por Gilbraz Aragão, professor da Unicap, tem sido um instrumento precioso na recuperação de um patrimônio religioso e espiritual, que permitiu o diálogo com as Religiões afro-brasileiras e com o Islã, por superar muitos preconceitos. Diante dos desafios da intolerância, decidiu-se organizar um novo evento, em março, destinado a todos aqueles que, em vários níveis, estão empenhados no diálogo para reafirmar a centralidade da formação histórico-teológica em uma perspectiva religiosa que, precisamente à luz de experiências locais, saiba abrir novos horizontes para o enfrentamento na sociedade brasileira. Em nível nacional, com a ambição de envolver estudiosos latino-americanos e europeus, se coloca a conferência sobre espiritualidade contemporânea, pluralidade religiosa e diálogo, prevista para abril, como um espaço muito especial dedicado à reflexão sobre o fundamentalismo. A conferência foi pensada para incentivar a contextualização da religiosidade “sectária e reacionária” gerada pelo fundamentalismo, com a finalidade de identificar caminhos teológicos abertos à pluralidade das tradições religiosas presentes no Brasil, e, assim, remover a intolerância e a discriminação. Na definição deste programa, continua a ser fundamental a referência à memória de Helder Camara, cuja fase diocesana do processo de beatificação acaba por finalizar-se. Para Luiz Carlos Luz Marques, professor da Unicap e autor de inúmeros estudos sobre o bispo brasileiro, a memória de dom Helder, promotor da Conferência Episcopal da América Latina e testemunho corajoso de recepção do Vaticano II, constitui um caminho privilegiado para a redescoberta da riqueza espiritual com a qual se lê a natureza e a história com os olhos do Próximo.

Vale destacar que dentre as atividades previstas, constam o Encontro de Formação Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso do Regional NE2 da CNBB, que acontece de 20 a 22/03/2020, no Convento São Francisco, em Olinda (PE). O evento pretende reunir religiosos e leigos das 21 dioceses de Alagoas, da Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, além de membros de outras confissões religiosas. A abertura do evento será conduzida pelo presidente da Comissão Regional Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso do NE2 da CNBB e arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido. Para obter detalhes sobre o Encontro, os interessados podem entrar em contato com a Comissão por meio do telefone (81) 3421.6075 ou pelo e-mail codeirnordeste2@gmail.com.

Texto original em italiano escrito e publicado por Riccardo Burigana em http://www.osservatoreromano.va/it/news/vincere-lintolleranza-sulle-orme-dihelder-camara

Mais informações sobre o evento formativo, acesse o link:

(Tradução para o português por Thaís Chianca Bessa Ribeiro do Valle)