A criação de um espaço para visibilidade, diálogo, articulação e alerta. Esta foi a proposta da apresentação dos dirigentes da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo de Pernambuco e Paraíba (Sindpetro PE/PB) durante a manhã desta sexta-feira, 13/03, na Cúria Metropolitana. Conforme havia prometido no último dia 03 de março, o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, cedeu espaço na reunião mensal do Conselho Episcopal, para que os representantes dos Petroleiros pudessem explanar aos vigários episcopais da Arquidiocese o cenário de ameaças, implicações e impactos decorrentes da política de desinvestimento da Petrobras no Norte e no Nordeste do Brasil. Dentre as principais preocupações do arcebispo metropolitano estão o aumento do desemprego, crescimento da violência e aumento no custo de vida, com a venda da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), localizada no Complexo Portuário de Suape, município de Ipojuca.
Os dirigentes do Sindpetro PE/PB, Sinésio Pontes, Leonardo Buarque e Rogério Almeida citaram algumas das situações decorrentes das ameaças à sociedade civil. Segundo alertaram os petroleiros, toda a cadeia produtiva é afetada, assim como toda a sociedade. “A soberania nacional da produção de alimentos está ameaçada, pois a Petrobras fechou suas fábricas de fertilizantes. Existem fertilizantes que empregam material decorrente do refino do petróleo. Com esta medida, o Brasil fica refém de importar fertilizante para a produção agrícola”, destacou Rogério Almeida, coordenador geral do SindPetro PE/PB. Almeida lembrou que o gás de cozinha está se tornando um artigo de alto custo e muitas famílias carentes já estão se expondo a riscos, utilizando álcool e lenha para cozinhar.
Leonardo Buarque, que é funcionário da Refinaria Abreu e Lima, explicou que das 19 unidades no Brasil, a RNEST é um tesouro da Petrobras, pois produz o melhor combustível pelo menor preço. O petroleiro expressou sua apreensão: “A privatização está em curso, pois em todo o Nordeste as unidades da Petrobras estão à venda. Com o cenário de privatização, o Brasil está reduzindo a produção para favorecer as importações. Isto afeta o mercado consumidor”. Sinésio Pontes, presidente do Sindpetro PE/PB, salienta que levar esta discussão para a sociedade civil, contando com o apoio e a capilaridade da Igreja Católica, é fundamental, pois o risco de a RNEST ser vendida para trazer combustível estrangeiro é iminente.
De acordo com o professor universitário e economista Pedro Lapa, que preside o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), é essencial sensibilizar estudantes e a Igreja para os impactos decorrentes da política de desinvestimento da Petrobras. “Os Petroleiros buscam construir uma reação por parte da sociedade civil, conferindo maior visibilidade a esta causa”, detalhou o docente. Na reunião foi destacado que no Curso de Cidadania e Políticas Públicas, promovido pela Arquidiocese, o SindPetro PE/PB havia realizado uma apresentação e durante a greve dos Petroleiros (de 1° a 20/02/2020), em Suape, os alunos do Vicariato Igarassu visitaram a tenda dos grevistas, em solidariedade ao movimento.
Ao término do encontro, o bispo referencial para a Ação Sóciotransformadora na CBNN NE2 e bispo auxiliar da Arquidiocese de Olinda e Recife, dom Limacêdo Antonio da Silva declarou que este é um momento histórico e de grande responsabilidade. Dom Limacêdo rememorou que a Arquidiocese, por meio de sua Comissão de Justiça e Paz, vem abraçando causas onde existe a violação de Direitos. Ele citou o exemplo dos moradores do Edifício Holiday, do moradores afetados pela desapropriação da Ferrovia Transnordestina na Mata Sul de Pernambuco, das Praias atingidas pelas manchas de óleo, dentre outras.
Malu Alécio, integrante da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese detalhou que neste final de semana a comissão vai redigir uma nota pública, expressando o apoio aos Petroleiros e vai articular ações de apoio e visibilidade à causa.
Conforme detalhou o Diretor do Sindpetro PE/PB, Sinésio Pontes, desde 2019 a Petrobras colocou à venda a RNEST e mais oito unidades da estatal do Petróleo. A Petrobras é uma empresa estatal de economia mista que tem a finalidade de prestar um serviço público, pois além do investimento público, também recebe investimento privado. Estes investimentos são feitos por meio da compra de ações negociadas na bolsa de valores.
O prof. Pedro Lapa explicou ao arcebispo que o Ineep desenvolve pesquisas e estudos no Brasil, acompanhando os impactos gerados pela diminuição das operações da Petrobras tanto em Pernambuco como em outros estados. A política de desinvestimento da estatal do petróleo brasileira tem impactado investimentos, arrecadação fiscal, emprego, salários e projetos socioambientais especialmente no Nordeste. Estudos do Ineep apontam a Petrobras está abrindo mão de realizar cerca de R$ 4,2 bilhões em investimentos no Nordeste e região, o que pode afetar mais de 100 mil postos de trabalho direta e indiretamente.
Localizada no Complexo Industrial Portuário de Suape, município de Ipojuca, distante 45 km do Recife, a Refinaria Abreu e Lima (RNEST) iniciou suas operações em 2014 e produz o Diesel S-10, o diesel mais limpo do mundo, nafta, óleo combustível, coque e GLP (Gás liquefeito de petróleo). A RNEST refina petróleo e produz derivados para o mercado desde dezembro de 2014, com o objetivo principal de produzir óleo diesel e viabilizar o atendimento da demanda de derivados da região Norte e Nordeste, para reduzir as importações. Segundo dados da Petrobras, a RNEST é a mais moderna refinaria brasileira já construída e apresenta a maior taxa de conversão de petróleo cru em diesel (70%), combustível essencial para a circulação de produtos e riquezas do país. A refinaria conta com avançadas tecnologias de refino e é a unidade com maior nível de automação. Sua concepção foi projetada para atender a diretrizes de categoria internacional e contempla tecnologias que respeitam o meio ambiente, com destaque para o alto nível de confiabilidade e desempenho, atendimento à qualidade dos produtos, baixo custo de manutenção, baixo consumo energético, uso otimizado de água e a máxima segurança operacional.
SindipetroPEPB — O Sindicato dos Petroleiros dos Estados de Pernambuco e da Paraíba instalou-se em Recife em 05 de janeiro 1989 e tem como objetivo principal defender e lutar pelos interesses de todos os trabalhadores das empresas do setor petróleo que atuam em atividades fins: perfuração, exploração e processamento de óleo e gás. Em todo país, a categoria petroleira é representada por 19 sindicatos petroleiros. Suas diretorias mantêm uma interação constante e têm como órgãos máximos de representação a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Confederação Nacional dos Químicos (CNQ) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
(Pascom AOR)