Estamos iniciando a terceira semana de quarentena, por conta da declarada pandemia do Covid-19. Segundo especialistas, essa segunda semana foi de grande importância para evitar o maior avanço do vírus. Pelo que escutamos, nos meios de comunicação, isso parece ter acontecido. A essa altura, a impaciência já começa a tomar conta das pessoas e as opiniões se dividem quanto à necessidade ou não de manter o recolhimento para a população abaixo dos 60 anos, apesar da clara orientação da Organização Mundial da Saúde.
A meu ver, o perigo maior está exatamente na divisão que começa a se instalar. Discordar, ter pontos de vista diferentes, isso faz parte da natureza humana e é até salutar. A divisão, porém, sobretudo, quando entra em jogo o fechamento para o diálogo, isso sim é muito perigoso. É preciso deixar de lado os posicionamentos políticos e partidários e pensar com maior responsabilidade e fundamentação técnica no bem comum. A maior parte dos países atingidos pelo coronavírus está mantendo e até reforçando a necessidade da quarentena. O bom senso mostra que, o mais prudente é seguir o consenso da maioria.
Por outro lado, é urgentíssimo levar em conta o problema da manutenção das pessoas mais pobres e abandonadas. Sem renda, a imensa maioria da população brasileira não terá como prover o necessário para a sobrevivência de sua família. É urgente que o governo adote medidas claras, visando soluções para essa problemática. Trata-se de um dever constitucional. Claro que se faz necessário cuidar dos doentes, mas é preciso também alimentar os mais pobres para que não se desesperem e possam aumentem suas defesas físicas. É hora de partilhar! Que pessoas, Estados e Nações entendam que se faz necessário deixar de lado o egoísmo e lembrar que ninguém suporta passar fome.
Como irmão e pastor do rebanho que me foi confiado, posso assegurar aos católicos e a todas as pessoas que creem em Deus: nunca podemos pensar que Deus possa ser causa ou fonte de um mal como é uma pandemia como essa. Deus só é Amor e fonte de Vida. Jamais quer a morte e o nosso sofrimento.
Ao concluir essas linhas, convido todos os leitores, meus amados irmãos e irmãs a elevar a mente e o coração a Deus. Unamo-nos a todas as pessoas que no mundo inteiro, nas mais diversas tradições espirituais estão orando para que o Deus da vida que está presente e inspira todo ato de amor e solidariedade, ilumine a comunidade médica e de enfermagem de nossa região e do mundo inteiro. Que, todos juntos possamos, guiados pelo Espírito Santo, superar essa calamidade e quanto antes restituir ao mundo as condições de saúde e de vida. “E a paz de Deus, que supera todo entendimento, guarde os vossos corações e os vossos pensamentos no Cristo Jesus, nosso Senhor” (Fl 4, 7).
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife