Incluídos entre os principais escritos de Pereira da Costa (1851-1923), os artigos sobre os primeiros 25 bispos nomeados para a antiga Diocese de Olinda, agora a Arquidiocese de Olinda e Recife, são a matéria-prima do novo título da Cepe Editora. O livro Os bispos de Olinda (1676-1910), organizado por Bruno Almeida de Melo, vem reforçar o valor histórico do legado do historiador, escritor e folclorista pernambucano. O lançamento acontece na próxima quarta-feira (20), às 9h, dentro da programação da exposição Pereira da Costa Hoje, organizada pelo Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (Apeje), para marcar o centenário de morte de Francisco Augusto Pereira da Costa, cujas obras estão fora de catálogo há 10 anos. A exposição tem apoio cultural da Companhia Editora de Pernambuco.
Ao traçar o perfil dos líderes eclesiásticos, Pereira da Costa introduz elementos para se entender fatos importantes da história colonial e imperial de Pernambuco e do Brasil. No artigo referente ao bispado de dom Manoel Álvares da Costa, o historiador mostra a estreita relação entre Estado e Igreja Católica, por exemplo. O bispo assumiu o governo da capitania de Pernambuco em 1710, ano em que o governador Sebastião de Castro Caldas Barbosa fugiu para a Bahia durante a Guerra dos Mascates (1710-1711). Outro artigo cita o conflito entre a Igreja e o Império. Ao biografar dom Frei Vital Maria de Oliveira, o historiador fala da prisão do prelado em 1874, ocasionada pelo conflito entre a igreja e a maçonaria.
O ponto de partida para o levantamento de Bruno foi a bibliografia de Pereira da Costa elaborada por Jorge Abrantes e Francisco Barreto Caeté em 1951. O trabalho de pesquisa do organizador foi minucioso. Ao identificar, enumerar e transcrever os artigos citados por Abrantes e Caeté, Bruno encontrou mais cinco textos, chegando a 44 textos. O livro da Cepe Editora traz, além dos 39 artigos da bibliografia de 1951, textos sobre dom frei José Fialho (1), dom frei Luiz de Santa Teresa (1), dom José da Purificação Marques Perdigão (2) e dom frei Vital Maria de Oliveira (1).
Os artigos de Os bispos de Olinda datam de 1921, quando a Diocese de Olinda estava completando 245 anos, e foram publicados em 44 edições do Diario de Pernambuco, entre 26 de fevereiro e 14 de setembro daquele ano. Neles, Pereira da Costa aborda desde dom Estevão Brioso de Figueiredo (1630-1689), o primeiro bispo nomeado da diocese, a dom Luiz Raimundo da Silva Brito (1840-1915), nomeado 25º bispo, em 1901, e o primeiro arcebispo da então criada Arquidiocese de Olinda, em 1910. Nota do organizador detalha que dos 25 nomes listados,“três não chegaram a ser sagrados, apesar de terem recebido a nomeação para ocupar o cargo”.
“A sua última obra editada, Arredores do Recife, data de 2013. Também neste ano de 2023 se completam 40 anos que a segunda edição dos Anais Pernambucanos foi lançada”, exemplifica Bruno Almeida de Melo, ao falar da importância da iniciativa da Cepe Editora. O novo título traz, além dos artigos, cerca de 200 notas. Elas identificam fontes utilizadas pelo historiador, que, segundo Bruno, “propositadamente” não citava as fontes, contextualizam, complementam e atualizam informações.
Além dos artigos sobre os bispos, o livro da Cepe Editora inclui mais quatro textos. Um deles trata é a Instituição da Igreja Pernambucana, também de Pereira da Costa, e que serve, conforme Bruno, “de complemento à série Os Bispos de Olinda”. Os demais são traduções, do latim para português, das bulas Ad Sacram Beati Petri, criando o bispado de Pernambuco, Apostolatus officium, confirmando Dom Estêvão Brioso de Figueiredo como primeiro bispo da diocese de Olinda, e Hodie ecclesiae, dirigida ao Príncipe Regente Dom Pedro II. As três bulas, traduzidas pelo padre Jurandir Dias Júnior, são do papa Inocêncio XI em 1676.
PEREIRA DA COSTA
O escritor, historiador e folclorista recifense Pereira da Costa tem mais de 50 obras editadas, abordando temas como a Confederação do Equador, a Ilha de Fernando de Noronha, o governo holandês e o teatro. A mais famosa de suas obras, os Anais Pernambucanos, foi publicada somente em 1951, quando haviam passados 28 anos da morte do historiador. Os Anais possuem 10 tomos, com mais de 5 mil páginas, sobre 357 anos da história de Pernambuco, compreendidos entre 1493 e 1850.
“Toda a obra de Pereira da Costa é importante. Pode-se questionar os métodos e os critérios adotados por ele, mas não se pode negar a importância e a relevância do seu trabalho. Sobre Os bispos de Olinda, eu vejo como mais uma oportunidade para se ter uma ideia da amplitude dos assuntos que Pereira da Costa pesquisou”, afirma Bruno.