A capela Nossa Senhora da Conceição, conhecida como Igreja das Fronteiras, no bairro da Boa Vista, é a cara de dom Helder Camara: o bispo morou ali, num pequeno quarto, próximo à sacristia, durante seu arcebispado na Arquidiocese de Olinda e Recife, de 1964 a 1985. Quando se tornou emérito, continuou na igreja, vivendo na simplicidade de sempre, até sua morte, em 1999.

Nesta terça-feira (07) à noite, um evento na igreja marcou os 60 anos de sua chegada na cidade para pastorear a Arquidiocese de Olinda e Recife, em 1964. Na primeira fila estava o padre José Augusto Esteves, que foi seu secretário por 17 anos. “Eu era seminarista quando dom Helder chegou”, contou o padre. “Foi dom Helder quem presidiu minha ordenação presbiteral, foi uma conexão imediata, e logo fui trabalhar como secretário dele, acompanhando seus passos até a morte, em 1999”. O padre José Augusto foi também capelão da Igreja das Fronteiras.

Outros amigos e admiradores, dentre eles figuras públicas da política local, estavam presentes. Também os jovens atendidos na Casa Frei Francisco, mantida pelo Instituto Dom Helder Câmara, participaram do evento, inclusive declamando poesias.  Católicos e nãos católicos, para lembrar o arcebispo que fez história no Brasil e no mundo. A fala principal foi do atual arcebispo de Olinda e Recife, dom Paulo Jackson, que expôs os elementos fundamentais do discurso de Dom Helder na chegada ao Recife. Palavras que ecoam até hoje.

Perguntado sobre o que a Arquidiocese ainda tem de dom Helder no seu governar, dom Paulo disse que cada bispo que passa deixa um pouco de sua marca. “Esse legado de dom Helder está vivo ainda. Claro que sofre modificações ao longo da história, mas sobretudo nas grandes intuições das pastorais sociais, da busca da caridade, das muitas instituições da vida religiosa feminina inserida, que continua fazendo grandes obras inspiradas por dom Helder Camara. Há um grande legado, hoje, conservado em nossa querida e amada Arquidiocese de Olinda e Recife”, comentou o arcebispo.

O encontro nas Fronteiras aconteceu permeado de poesias, como dom Helder gostava. Uma noite de música e congraçamento da amizade social. Memória festiva do bispo da colegialidade, muitas vezes incompreendido, que sonhou com o ecumenismo, a paz, e que tinha um olhar especial para os pobres. “Não é sem motivo que ele está em processo de beatificação. Dom Helder, ao chegar a Recife, há 60 anos, deu grandes intuições de como seria seu ministério episcopal: o amor aos pobres, uma luta absolutamente cotidiana na busca do desenvolvimento, da paz, para que os pobres tivessem dignidade. Dom Helder sonhou com um mundo sem guerras, um mundo sem violência e sem armas. Buscou, incansavelmente, que cada filho, cada filha de Deus tivesse sua dignidade. E nós conservamos essa memória”, concluiu.

Pascom AOR