No mês de junho a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) convoca a todos a voltarem à atenção para a Campanha Junho Verde, um período dedicado à conscientização sobre a importância da preservação dos ecossistemas naturais e de todos os seres vivos.
A Campanha, de motivação da CNBB, foi estabelecida pela Lei 14.393/2022, que altera a Política Nacional de Educação Ambiental e institui a celebração do mês temático como parte das atividades educativas na relação com o meio ambiente. O texto foi sancionado no dia 4 de julho.
O Junho Verde acontece também no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho. E durante todo o mês são trabalhadas atividades de incentivo à conscientização e à proteção do meio ambiente.
O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e ex-presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, um dos idealizadores da proposta da Campanha, concedeu entrevista ao portal da CNBB e avaliou como o Junho Verde tem incentivado a realização de ações práticas e educativas para o cuidado com a Casa Comum, na perspectiva da ecologia integral.
Confira a entrevista na íntegra:
Como o senhor avalia o Junho Verde após este tempo da Lei em vigor?
Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte (MG)
A Campanha Junho Verde é uma vitória da sociedade brasileira, alcançada com o dedicado trabalho de nossa Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Uma conquista a ser comemorada, mas que exige, permanentemente, avanços, pois a Campanha é permanente interpelação: todos – o poder público, escolas, igrejas, empreendedores, sociedade civil – são chamados a reconhecer a própria responsabilidade na necessária mudança de rumo para salvar o planeta. A humanidade precisa adotar novo estilo de vida, mais coerente com os princípios da ecologia integral, capaz de garantir o desenvolvimento econômico sustentável. Para isso, deve ser amadurecida a consciência sobre a interdependência entre todos os elementos que integram o planeta. De iniciativas simples às mais complexas, que envolvem grande parcela da população, o Junho Verde precisa inspirar uma reação educativa capaz de debelar insensibilidades diante da responsabilidade humana nos desastres climáticos e nas tragédias socioambientais.
O que ainda é necessário fazer para tirar a lei do papel?
A Lei vai se tornar cada vez mais eficaz quando os cidadãos exigirem de seus governantes mais compromisso com a salvaguarda dos bens naturais. Para isso, cada pessoa deve avançar na compreensão de que os recursos naturais devem ser adequadamente cuidados, bem geridos, nunca explorados predatoriamente. Não se deve esperar apenas das instâncias do poder ações capazes de incentivar o compromisso cidadão com o meio ambiente. Igrejas, escolas e outras instituições da sociedade civil têm papel relevante na formação educativa que inspire adequado exercício da cidadania diante das crises socioambientais. Quando a cidadania é qualificadamente exercida, o poder público é interpelado a agir de modo mais célere, oferecendo respostas essenciais às demandas mais urgentes da sociedade.
A partir dessa perspectiva, nossa arquidiocese de Belo Horizonte promove, constantemente, um conjunto de iniciativas para sensibilizar as pessoas sobre a importância do cuidado com o semelhante e o planeta. Desde 2020, organizamos Romarias pela Ecologia Integral, peregrinando a Brumadinho, cidade que, em 2019, ficou marcada pelo rompimento da barragem com rejeitos de mineração. As Romarias também são vividas em junho, no horizonte do Junho Verde, sempre em um lugar que inspira mais cuidados para a manutenção do equilíbrio socioambiental. Outra iniciativa em nossa Arquidiocese foi a instituição da Casa de Francisco, em uma área de rica biodiversidade. A Casa recebe alunos de escolas públicas para uma programação educativa que partilha saberes relacionados à defesa do meio ambiente.
Qual a relação desta lei com o magistério da Igreja/Papa Francisco?
A Campanha Junho Verde tem fundamento essencial no magistério do Papa Francisco, que magistralmente ensina, à luz da fé: a Criação de Deus deve coabitar o planeta em harmonia. Portanto, tudo que está em desarmonia com o equilíbrio da Criação está na contramão da vontade de Deus. A Carta Encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado com a casa comum e, posteriormente, a Exortação Apostólica Laudate Deum oferecem uma profunda compreensão a respeito da grave crise que a casa comum atravessa, possibilitando a cada um enxergar que não é possível existir humanidade saudável em um planeta adoecido. O Papa Francisco sempre ressalta que as crises ambiental e social, com tantas pessoas sofrendo, são indissociáveis, tornando mais adequado compreendê-las como um mesmo desafio socioambiental. Com simplicidade, nosso amado Pontífice revela, assim, a complexidade do momento que atravessamos, ensinando que o cuidado com o planeta é exigência cidadã e, ao mesmo tempo, compromisso de fé daqueles que creem no Deus-Criador.
Acesse os materiais da Campanha (aqui).
Fonte: CNBB