Por Genivaldo Henrique/Folha de Pernambuco
Foto: Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco
Em meio à destruição, primeiro veio a promessa de renovação e, agora, a esperança de um dia melhor, fruto de um trabalho bem realizado. Foi nesse movimento que o novo Centro de Documentação Dom Helder Câmara (Cedohc) começou a ser construído nesta terça-feira (8).
O ponto, agora localizado ao lado da Igreja das Fronteiras, bairro da Boa Vista, Centro do Recife, vai abrigar o acervo em memória ao religioso, símbolo da luta contra a Ditadura Militar em Pernambuco, que até hoje é lembrado como grande defensor da democracia. Quem esteve presente também pôde participar de uma celebração eucarística e de bênção ministrada pelo padre Fabio Potiguar.
Todo o acervo precisou ser transferido em janeiro de 2020, quando o antigo Cedohc foi invadido por criminosos. À época, foram saqueados itens de valor, e todo o trabalho do ex-arcebispo de Olinda e Recife precisou ser encaixotado em local seguro, mas sem acesso à pesquisa do público.
Para a diretora do Instituto Dom Helder Câmara (IDHeC), Virgínia Pimentel, dar o primeiro passo para reabrir o espaço chega com grande emoção e sentimento de trabalho cumprido para todos que participaram desse processo.
“É uma alegria e muito importante para o Instituto Dom Helder e todos os seus parceiros a certeza de que o acervo de dom Helder vai ser guardado e ficará à disposição para ser estudado e pesquisado por jornalistas, estudiosos, cineastas, religiosos, teólogos e todos que acompanham a vida de Dom Helder. Não só como um membro da Igreja, ele também foi um personagem muito importante para a história contemporânea do Brasil”, pontuou.
A celebração ministrada por padre Fabio Potiguar também foi um momento de bastante emoção para todos os que estavam presentes. Por meio da bênção do religioso, o primeiro passo para a construção pôde ser dado.
“Pedimos a Deus, por meio de Jesus, derramasse o Espírito Santo na construção do acervo de dom Helder, um homem comprometido com a cidadania e dignidade humana. É importante conhecer dom Helder e a beleza dele e de Deus espalhadas para a gente”, disse o padre.
Projeto
O novo Cedohc nasce de trabalho duro, e, claro, muita parceria e solidariedade. Além das doações feitas para viabilizar a construção, Conselho Curador do IDHeC também contou com a ajuda de oito instituições católicas europeias. Também participaram desse processo Governo do Estado e Prefeitura do Recife.
Ao todo, foram mobilizados R$ 600 mil para o projeto. O prazo de finalização das obras é de cinco meses, enquanto a reabertura está marcada para o dia 30 de março.
Quem for conferir o Cedohc também vai poder visitar, na Igreja das Fronteiras, o Memorial Dom Helder Câmara. Lá, estão presentes a Casa Museu, a Exposição Permanente e o Terraço Dom Lamartine.
No local, também opera a Casa de Frei Francisco, que atende cerca de 100 adolescentes no contra-turno escolar no bairro dos Coelhos, Centro do Recife.
A entrada no Memorial é gratuita, e o serviço funciona de terça a sexta-feira, das 10h às 16h, e aos domingos, das 9h às 13h.
Legado e acervo de dom Helder
Além de arcebispo, o religioso foi também foi um grande defensor dos direitos humanos durante a Ditadura Militar no Brasil, e segue, até hoje, sendo lembrado pelo serviço prestado para a manutenção da democracia.
Durante seus mais de 30 anos de serviço, dom Helder Câmara escreveu mais de 200 mil manuscritos, que estão presentes no acervo. Também compõem as peças históricas vídeos, fotografias e pertences do religioso.
Algumas das cartas escritas a mão, inclusive, estão no momento sob posse do Vaticano, que analisa o processo de beatificação do ex-arcebispo.
“A gente também reitera que todo esse acervo já está sendo digitalizado, em parceria com o Governo do Estado, para que todo o público possa acessar nas nossas plataformas digitais. Como muitos manuscritos estão sendo analisados, é importante que tenhamos esse acervo digital para que todos possam acessá-lo”, completou a diretora do IDHeC.
“Caminhos do Dom”
Durante o evento, a Secretaria de Turismo de Pernambuco também revelou a implementação do projeto “Caminhos do Dom”, que vai instalar placas em pontos históricos por onde o religioso passou. Os equipamentos também vão ter QR-Codes para que a população possa acessar, virtualmente, descrições sobre cada local.
Ao todo, devem ser instaladas 10 placas no Recife. O prazo de entrega é de 60 dias.
“Vão ser colocadas essas placas sinalizadoras para que toda a população possa acessar toda a rota do dom e a história importante do nosso Estado. Ficamos muito felizes por viabilizar a compra e instalação dessas placas para o instituto. Ficamos muito felizes por participar desse projeto tão lindo”, explicou o secretário de Turismo de Pernambuco, Paulo Nery.
Confira locais onde as placas serão instaladas
Imagem: Arte/Secretaria de Turismo de Pernambuco