SIM À VIDA!
Minhas irmãs e meus irmãos,
Em mais uma ocasião, nós nos reunimos para dizer: Sim à vida! Somos cristãos católicos, em sua maioria, mas também irmãos e irmãs de outras denominações, e homens e mulheres de boa vontade, amantes da vida.
Nossa palavra diz respeito à vida da sua fecundação à morte, o ocaso natural, em todas as suas etapas e em todas as suas dimensões, especialmente física, psicossocial e socioeconômica. Nossa palavra diz respeito à vida do ser humano, mas também à vida do planeta e do universo inteiro. Por isso, apresento quatro princípios fundamentais:
Queremos, em primeiro lugar, defender a vida do nascituro, do embrião, do feto, aquele que já foi concebido e, portanto, já é plenamente pessoa humana, com capacidade inclusive de interrelações e de influxos profundos sobre os pais e outras pessoas envolvidas no processo da geração de sua vida. Desejamos e exigimos que sejam plenamente salvaguardados sua vida pré-natal e os seus direitos fundamentais, pois sua natureza humana deve ser reconhecida desde a sua fecundação. O nascituro goza da expectativa do direito à vida, à integridade física, à honra, à imagem e a todos os demais direitos de personalidade. Por isso, seja ele protegido de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão. Dizemos sim à vida do nascituro!
Defendemos o direito à vida de crianças, jovens, adultos e idosos. Que todos os filhos e filhas de Deus possam viver com liberdade, desenvolver suas potencialidades e conviver harmonicamente em sociedade; tenham direito à vida, à igualdade de oportunidades, à segurança e à propriedade; possam ter acesso à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância; tenham acesso a um sistema jurídico marcado pela equidade e ampla defesa; tenham direito à liberdade de consciência, de pensamento e de religião. Que as crianças possam sorrir e crescer com esperança! Que os jovens não sejam sequestrados pelas facções que controlam a venda e a distribuição da droga em nosso país ou sejam amontoados em nossos presídios desumanos e superlotados! Que os idosos não sejam vítimas do descaso e do abandono, mas possam viver a fase da senectude como momento especial de transmissão da sabedoria acumulada ao longo dos anos! Dizemos sim à vida de crianças, jovens, adultos e idosos!
Muitas vezes, afirmamos que, em nosso querido Brasil, não há guerras. Na verdade, vivemos uma guerra surda e absurda, que mata tantos todos os dias. Por isso, queremos, hoje, também dar um grito contra a violência: a violência dos que roubam o celular na esquina e dos que matam por causa de uma estúpida carteira; a violência do tráfico de drogas; a violência da corrupção; a violência dos nossos presídios cheios e que não ressocializam; a violência do trânsito (Recife tem um trânsito extremamente violento: chegamos ao século XXI sem saber o que é uma faixa de pedestre); a violência do preconceito e da discriminação, especialmente contra os pobres, os negros, os índios e os homossexuais; a violência contra as mulheres (somos campeões em feminicídio!). Queremos, hoje, dizer sim à vida e não à violência. Queremos dizer não ao armamentismo; dizemos não à ideologia antievangélica dos que afirmam que “bandido bom é bandido morto”. Não! São filhos de Deus que devem ser convertidos, evangelizados e amados. Cristo morreu por todos os ímpios, dos quais nós somos os primeiros. Dizemos sim à vida e não à violência!
Este ano, temos visto o Rio Grande do Sul destruído pela água, o Pantanal pegando fogo e os peixes do Amazonas morrendo de sede, por causa da seca. O Santo Padre, o Papa Francisco, com duas encíclicas, tem insistido muito no tema das graves crises e mudanças climáticas. Na Laudato Si’ e na Laudate Deum, o Papa convoca a humanidade para comprometer-se com a conversão ecológica. Destruir a Criação é ferir profundamente a face do Deus Criador. Queremos também, hoje, dizer sim à vida do planeta, à vida do universo. Precisamos repensar seriamente o modo de nos organizarmos em sociedade, o modelo de produção, distribuição, consumo e descarte. É imoral, anti-humano e antievangélico que ainda tenhamos que conviver com as profundas desigualdades sociais da nossa Região Metropolitana. Temos muito a fazer. Como é doloroso conviver com os esgotos fétidos dos canais de Recife. É triste termos que conviver com o lixo, os buracos e o descaso com a cidade de Olinda, Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco. Nós somos criaturas com outras criaturas amadas pelo Senhor. Por isso, dizemos sim à vida da Criação!
Meus irmãos e minhas irmãs:
Queremos gritar a plenos pulmões: Sim à vida! Do embrião ao idoso. O Sim à vida exige de nós um outro estilo de vida: com alimentação mais natural e menos química; exige de nós estilo de vida mais simples, frugal; exige de nós mais meditação e menos barulho; exige de nós mais exercício físico; exige de nós mais convivência respeitosa e amorosa com os outros irmãos e irmãos; exige de nós mais empenho em proteger e guardar a Criação; exige de nós mais reverência e adoração ao Deus Criador, Pai de todos e amigo do ser humano. Ser pessoa nova, com um estilo de vida novo, com uma nova lógica de utilização dos espaços urbanos e rurais, com defesa integral da vida em todas as suas etapas e circunstâncias. O Sim à Vida, na verdade, é um projeto de vida, é um programa que vai gerar uma pessoa humana nova. Por isso, gritamos: Sim à Vida!
Dom Paulo Jackson
Arcebispo de Olinda e Recife
13.outubro.2024