No aeroporto, hoje (21) pela manhã, o arcebispo de Olinda e Recife concedeu entrevista a veículos de Imprensa que buscavam uma palavra sua sobre o Papa Francisco. Solícito e paciente, dom Paulo Jackson atendeu todo mundo e revelou suas impressões sobre o Papa que, segundo ele, deixou um legado imenso (acompanhe abaixo trechos da coletiva).
Dom Paulo seguiu hoje pela manhã para um retiro espiritual na região da Galileia, no Norte de Israel. A viagem estava programada e não tem a ver com a morte do Papa Francisco. Cerca de 130 bispos do mundo inteiro participam do retiro, que vai durar uma semana.
Na Arquidiocese de Olinda e Recife, os bispos auxiliares dom Josivaldo Bezerra e dom Nereudo Freire celebram missa em sufrágio da alma do Papa Francisco nesta terça-feira, dia 22, às 19 horas, na igreja da Madre de Deus, no Recife Antigo.
Por determinação de dom Josivaldo, os sinos das igrejas vão tocar hoje, dia 21, às 18 horas, lembrando a morte do Papa.
Pascom AOR
COLETIVA
“O Papa Francisco foi grande. Dentre tantas inspirações, teve ao coração a temática da migração. Na sua autobiografia, ele começa exatamente contando a história da migração dos seus antepassados, da Itália para a Argentina. É um grande profeta, por este tema e outros.

Segundo, era um homem do silêncio, da oração e do discernimento. Não à toa era devoto de São José Dormente (que dorme). Profundamente devoto de Nossa Senhora, ia frequentemente à igreja de Santa Maria Maior, em Roma, visitar Nossa Senhora e levar uma flor branca para Maria Santíssima. Homem que buscou compreender qual era a vontade de Deus para a história da humanidade.

Terceiro, um homem que enfrentou, com muita determinação, os escândalos acontecidos na Igreja, especialmente escândalos ligados a abusos sexuais e abusos com menores e vulneráveis, mas também os abusos econômicos, sobretudo no Bando do Vaticano. Fez a reforma interna da Cúria, criou mecanismos para enfrentar essas problemáticas, esses abusos, com muita transparência e determinação. Além do mais, foi um Papa que sempre buscou o diálogo dentro da Igreja, tinha clareza muito forte para onde a Igreja deveria ir. Buscou que a Igreja não fosse auto referencial, olhando para seu próprio umbigo, mas fosse uma igreja aberta, em saída, com acolhimento de outros. Ele falou com muita tranquilidade e serenidade do acolhimento das pessoas homo afetivas e dos casais de segunda união, e de outras situações-limites que existem no âmbito da ética sexual e familiar. O Papa Francisco quis uma igreja mais pobre, mais simples, mais missionária. É bem verdade que o Papa João Paulo II e o Papa Bento XVI já tinham tocado no assunto, mas foi o Papa Francisco quem colocou no cenário da Doutrina Social da Igreja o tema da Ecologia Integral.
Guardamos então um legado imenso. O fato de ele morrer exatamente na madrugada do Domingo da Ressurreição, creio que é um sinal bonito de Deus. O Papa do bom-humor, o Papa do sorriso e da alegria. Essa será uma das grandes características que ele também nos deixará. Que a alegria e o bom-humor de Francisco contagiem o mundo todo para sempre buscarmos o caminho de Deus e fazermos a vontade que o Senhor nos pede.
O Papa quebrou muitos protocolos. Sobretudo naquela aparição, coberto com um poncho argentino (listrado, na cadeira de rodas). Ele não teve medo de mostrar sua debilidade física, sua debilidade emocional. E ao mesmo tempo, na sua fraqueza, ele revelou toda sua força. O homem que foi sempre o homem da Esperança morre, praticamente, no Domingo de Páscoa. Creio que é um sinal amoroso de Deus”.
Sobre o futuro Papa:
“Que tenha a sensibilidade e o olhar voltado para os pobres, eu creio que isso é fundamental. Agora, que seja um Papa com o mesmo carisma, do mesmo perfil, isso não importa: a Igreja sempre colhe o melhor de cada Papa que passa. Cada um tem um olhar, uma sensibilidade. Eu costumo sempre dizer: eu não escolho o Papa; eu amo o Papa que aí está, quem quer que seja. Porque o ministério de unidade do Papa é muito mais importante do que o perfil pessoal de cada um. Todos os que passara deixaram sua contribuição e a sua marca. Quem virá depois de Francisco? Não sabemos. Quem quer que venha, seja guiado pelo Espírito Santo, tenha amor ao Evangelho, seja um homem de Deus e de oração, tenha um amor grande pelos pobres e exercerá um ministério de unidade reconhecido, amado, respeitado por todos os católicos”.
Dom Paulo Jackson
Arcebispo de Olinda e Recife
