Foi anunciada com muito entusiasmo e emoção, depois de 50 anos de estudos, a descoberta, feita pelo Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), do Bóson de Higgs ou a Partícula de Deus. Recebeu este nome em homenagem ao físico britânico Peter Higgs, que propôs sua existência em um artigo publicado em 1964. O Bóson de Higgs ficou conhecido como “Partícula de Deus”, porque, assim como Deus, estaria em todas as partes, mas é difícil de definir. O Bóson de Higgs é a partícula subatômica que confere a massa às outras partículas elementares, como os prótons e os elétrons e explicaria porque é que todas as coisas do Universo têm uma massa.

Como sempre este tipo de descoberta faz com que a imprensa divulgue com muita sensação e, queira ou não, parece trazer à tona o velho tema da relação fé – ciência. Digo relação, porque não me parece que necessariamente deva haver conflitos entre elas, embora entre ambas possa haver temas fronteiriços. A descoberta pareceu-me sensacional, pois, sendo verdadeira, será mais um passo nesta aventura maravilhosa que é conhecer a nossa origem e do universo tão misterioso e tão fascinante. Só me parece muito inconveniente um dos nomes pelos quais é chamada – “Partícula de Deus” -, o qual parece ser muito poético e muito pouco científico. Este tipo de expressão, mesmo em sentido metafórico, pode causar certa confusão, pois é dar margens ao velho chavão de pensar que o fato de que todos os que se dedicam à ciência tenham que realmente negar a existência de Deus ou até mesmo querer pôr em ridículo aqueles que tem fé.

Ao saber da notícia, recordei as interessantes aulas de Filosofia da Natureza do meu Professor Miroslaw Karol, um discípulo do físico e sacerdote Mariano Artigas, da Universidade de Navarra. Ali, ensinaram-me que as explicações físicas sobre a origem do universo não têm porque negar as explicações filosóficas e teológicas. Só para lembrar: a primeira versão do modelo do Big Bang foi formulada pelo astrônomo e sacerdote católico belga Georges Lemaitre, em 1927. A criação trata-se de um problema metafísico, o qual consiste em determinar que a criação divina produz totalmente o ser, sem se apoiar em algo preexistente, não é uma simples transformação de algo que já existia, é criação “ex nihilo”. Já a física pode postular, ainda que seja como hipótese, a existência de estados físicos anteriores a qualquer estado do universo, estuda as transcrições entre estados físicos; a sua perspectiva e seu método, não permitem estudar o fundamento radical do universo. Portanto, não pode se pronunciar acerca de Deus nem da criação.

Portanto, cabe à física explicar o como; o porquê está além de seu método. Assim sendo, falar de partícula de Deus, não; mas um Deus particular, singular, que transcende todas as leis físicas, sim; continua fazendo sentido Dele falar: a organização, a finalidade, por um lado, e a não autossuficiência, a contingência do universo, por outro, remetem a uma causa superior que lhe deu o ser. A suposta descoberta do Bóson de Higgs é partícula do conhecimento do misterioso universo a ser desbravado pela inteligência humana e mais uma certeza de que, “partindo da grandeza e beleza das criaturas, pode-se chegar descobrir, por analogia, o seu Criador” (Sb 13, 5).

Pe. Moisés Ferreira
Membro da Comissão Arquidiocesana de
Pastoral para a Doutrina da Fé