“Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos”
Estas palavras de Jesus, em seu discurso após a ceia (Jo 15,5-9), nos oferecem o tema desta Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos 2021 que celebramos de 16 a 23 de maio. Nestes dias, em preparação à solenidade de Pentecostes, assim como os apóstolos se mantiveram reunidos em oração no cenáculo, esperando a vinda do Espírito Santo, comunidades de diferentes denominações cristãs dedicam esta semana à oração pela unidade das Igrejas. Como a unidade é dom do Espírito, esperamos a manifestação do Espírito pedindo este Dom.
No Brasil, anualmente, a Semana de Orações pela Unidade das Igrejas Cristãs é preparada e organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. O CONIC tem testemunhado que não tem sentido falar de Deus e se apresentar como cristãos e, ao mesmo tempo, ser conivente com injustiças. Assim, precisamos ver esta Semana de Orações como continuidade da recente Campanha da Fraternidade Ecumênica sobre Diálogo como compromisso de Amor.
Como explica o subsídio da SOUC: Ano após ano, comunidades cristãs das mais diferentes tradições têm aderido às celebrações propostas pela Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos. Isso reflete uma compreensão cada vez maior da mensagem de Cristo, que disse: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (João 17:21).
O tema tomado da palavra de Jesus “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos” lembra que o único caminho para a unidade é a identificação profunda e radical com Jesus Cristo. É esta relação visceral com Jesus que nos permite viver a unidade na diversidade, tanto na mesma Igreja (unidade intraeclesial), como entre irmãos e irmãs de Igrejas diferentes (diálogo intereclesial). No século III, São Cipriano de Cartago escrevia: “A unidade abole a divisão, mas respeita as diferenças”. No Brasil, infelizmente, em nossos dias, vivemos um forte clima de polaridade e antagonismos. Neste contexto, é importante recordarmos a orientação de Santo Agostinho: “unidade no essencial da fé, liberdade nas coisas que podem ser acidentais e caridade em tudo”.
Todos estamos de acordo que o essencial é essa adesão existencial a Jesus Cristo. É esta relação como a de ramos com a videira que possibilita “dar frutos”. Todo o Evangelho mostra que não basta dizermos “Senhor, Senhor”. Precisamos dar frutos adequados de justiça e amor. No contexto da nossa sociedade, não podemos ser coniventes com a violência e a crueldade em relação à população mais pobre. Em nome de Jesus não podemos ser coniventes com discriminações de nenhum tipo. Um modo de organizar a sociedade que aumenta desigualdades sociais e injustiças é contrário ao projeto divino. Para permanecer ligados a Jesus, devemos colaborar com a justiça, a paz e o cuidado com a Terra e toda a criação divina.
Para realizar o desejo expresso de Jesus, as Igrejas precisam retomar o caminho da unidade. No entanto, este esforço do diálogo e da oração pela Unidade é igualmente importante para toda a humanidade porque colabora com a paz do mundo e o diálogo da humanidade. Neste sentido, concluo com as palavras do papa Francisco na encíclica Fratelli Tutti, quando pede que as Igrejas e religiões se coloquem a serviço da fraternidade universal: “Se a música do Evangelho parar de vibrar nas nossas entranhas, perderemos a alegria que brota da compaixão, a ternura que nasce da confiança, a capacidade de reconciliação que encontra a sua fonte no fato de sabermos que sempre somos perdoados-enviados. (…) Para agir assim, outros bebem de outras fontes. Para nós, essa fonte de dignidade humana e fraternidade está no Evangelho de Jesus Cristo”. (n. 277).
Como pastor dessa Igreja, peço a todos os irmãos e irmãs de nossa arquidiocese que valorizem a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, de modo criativo. Sobretudo, rezando com suas comunidades nesta intenção.
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife