No Nordeste, o mês de junho é marcado pelas festas juninas. Os costumes e brincadeiras vividos nestes festejos juninos unem as pessoas e comunidades da cidade às melodias, danças e vestes vindas do campo. As fogueiras recordam o tempo em que as comunidades se reuniam e faziam festas ao redor da fogueira. Hoje nossa relação de amor com as árvores e a natureza ameaçada impõe um cuidado maior na utilização do fogo, assim como na organização comunitária que expresse a alegria da confraternização, sem ceder às tentações do consumismo e dos excessos de bebedeiras que, muitas vezes, provocam problemas sociais indesejados.

Os festejos civis favorecem a união das pessoas e a alegria comunitária. A referência histórica a São João Batista no dia 24 de junho vem dos primeiros séculos do Cristianismo. No hemisfério norte, povos antigos faziam festas em redor do fogo. Como era a noite mais quente e curta do ano, esperavam o sol nascer com cânticos e danças. Para os cristãos, a fogueira se tornou símbolo de João Batista, a quem o evangelho chama de “lâmpada que, como fogo, arde e ilumina” (Jo 5, 35). Como fogueira que antecipa a aurora, João Batista nos prepara para acolher a verdadeira luz, Jesus Cristo.

Geralmente, a Igreja celebra a memória dos santos no dia de sua morte. Além de Maria, mãe de Jesus, São João Batista é o único santo do qual celebramos o nascimento. De fato, no evangelho de Lucas, proclamado nesta festa, é dito que “por seu nascimento muitos se alegrarão” (Lc 1, 14). Esta alegria é sinal da presença divina no meio de nós. Mesmo para uma sociedade como a nossa, laical e pluralista, a figura de João Batista pode indicar um rumo de paz e justiça.

Muitas vezes, as festas juninas satirizam o juiz da roça, o padre do casamento caipira e outras figuras da sociedade vigente. Expressam, assim, uma dimensão crítica que, de outras formas, o povo mais pobre não tem como manifestar. Isso nos recorda que São João Batista, em toda a sua vida, foi um profeta, alguém sempre atento a proclamar, em nome de Deus, a justiça e a exigir o direito dos pobres (Lc 3, 10- 14).

Nestas festas juninas, é bom lembrarmos: em 1979, a 17ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) decidiu que, a cada ano, seja celebrado o Dia nacional dos Migrantes no 25 de junho, ou no domingo mais próximo deste dia. Neste ano, o Serviço de Pastoral dos Migrantes propôs como tema: “Migração e Meio-ambiente”. Isso nos lembra: entre os milhões de migrantes, obrigados a viver fora de seus países (na América Latina, calculam-se em 26 milhões), atualmente muitos deixam seus lares por causa das destruições da natureza. São “refugiados ambientais”. Aqui em Pernambuco, assistimos a este sofrimento, nas inundações que atingiram a Região da Mata Sul do nosso Estado. Também no litoral de Suape, inúmeros pobres são forçados a deixar suas casas e meios de subsistência por causa da implantação do novo complexo industrial no local.

As festas juninas podem ter um conteúdo que vá além do apelo turístico e comercial. O mesmo povo que se organiza tão bem em quadrilhas, bailes caipiras e festejos comunitários é totalmente capaz de se mobilizar em campanhas de acolhida aos migrantes, solidariedade às vítimas dos flagelos naturais e sociais da nossa realidade. Principalmente, pode se unir e organizar na defesa da justiça e dos direitos humanos dos quais São João Batista foi profeta e precursor.

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife