Educação como ato de amor e esperança
Neste ano de 2022, a Campanha da Fraternidade volta pela terceira vez ao tema da Educação. Em 1982, o tema era a educação libertadora com o lema “A verdade vos libertará”. Em 1998, cem anos depois da abolição oficial da escravidão no Brasil, novamente a CNBB propôs o tema Fraternidade e Educação e o lema era “a serviço da vida e da esperança”.
Agora, nesta 58ª edição nacional da CF, a proposta é continuar a reflexão e a ação destes dois anos mais recentes que trataram do cuidado do outro (2020) e do diálogo como estilo de vida e proposta espiritual (2021).
A intuição de ligar a celebração da Quaresma e da Páscoa com um sinal concreto de fraternidade social foi assumida por muitas outras conferências episcopais no mundo inteiro. Atualmente, em quase todos os países, existem campanhas sociais de Quaresma, cada ano com um tema e um objetivo social concreto. Mesmo assim, na contramão desse esforço de ligar fé e vida social concreta, ainda temos setores em nossa Igreja que desdenham da Campanha da Fraternidade como se esta tornasse a Quaresma menos espiritual ou tirasse o foco da celebração pascal de Jesus. Já no século II, Santo Irineu de Lyon nos ensinava: “A glória de Deus é a vida do ser humano”. Como toda a Bíblia nos ensina, o louvor que agrada a Deus tem de ser baseado na prática da justiça e no testemunho de que Deus é Amor.
Neste ano, o lema escolhido para a CF é “Fala com sabedoria, ensina com amor”, tirado do livro dos Provérbios (31, 26).
Na realidade atual que vivemos, todas as pessoas de boa vontade estão de acordo que o grande desafio atual é como sairmos dessa pandemia não para simplesmente voltar ao mundo como era antes, o que, de certa forma, se verifica como impossível e sim tendo aprendido com esse tempo de sofrimento, sairmos com mais responsabilidade uns com os outros e como humanidade no cuidado com a casa comum, o planeta em que vivemos.
Sem dúvida, é tarefa pascal de nós todos aprofundar qual o lugar da educação na construção dessa nova organização do mundo pós-pandemia. Paulo Freire, nosso mestre recifense, já ensinava que, embora a educação sozinha, não possa transformar o mundo, de fato, o mundo nunca será transformado sem o protagonismo da educação. E desde antes da pandemia, o papa Francisco lançou o Pacto Global pela Educação, ao qual todos nós somos chamados a colaborar e dentro do qual essa Campanha da Fraternidade se insere.
De fato, aprendemos com o papa que “educar é um ato de amor e esperança nas pessoas” e se dá pelo encontro no qual todos somos, ao mesmo tempo, educadores e educandos, em um processo, no qual a educação deve ser integral. Portanto, deve valorizar a totalidade da vida, abarcar todos os horizontes e ter como objetivo o que, na encíclica Fratelli Tutti, o papa Francisco chamou de “fraternidade universal e amor social”.
Como sempre, a Campanha da Fraternidade procura partir da realidade e, neste sentido, deseja promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil. É a partir desse chão que devemos partir para um verdadeiro mutirão educativo na direção de uma educação integral.
Desejamos aprofundar que contribuição específica o trabalho educativo da Igreja Católica pode trazer a esse mutirão educativo de todo o Brasil e como impregnar de valores evangélicos todo o trabalho para reconstruir a vida e a sociedade com saúde para todas as pessoas.
Finalmente, a CF propõe que formemos parcerias com as Instituições educativas, com as Secretarias Municipais e Estaduais de Educação e os movimentos de educação comunitária para integrar o citado Pacto Global pela Educação.
Como Igreja, somos chamados a proporcionar formação de educadores/as populares nas comunidades eclesiais, em todos os níveis, seja das paróquias, seja de comunidades e organizações eclesiais, no compromisso para uma educação integral para a fraternidade, a justiça e o cuidado com a natureza.
Abençoada Quaresma para todos e todas.
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife