Dom Vital é um modelo de fidelidade para todos os cristãos e um exemplo de pastor abnegado, fiel, desapegado e comprometido com o Reino. Um pastor que exerceu seu múnus, consciente de sua missão de apóstolo sempre em comunhão com o sucessor de Pedro.
Vatican News – Frei Jociel Gomes, OFMCap. Vice-postulador
Estamos celebrando o sesquicentenário da ordenação episcopal e posse de Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira (1844-1878), como bispo de Olinda. Ele foi o primeiro bispo capuchinho do Brasil e, quando nomeado, contava apenas 26 anos, vindo a falecer aos 33. Sua coragem, sua ousadia e suas atitudes contribuíram para uma maior liberdade de ação da Igreja no Brasil. Por sua defesa da fé cristã católica diante das seitas secretas e dos desmandos imperiais recebeu o título de “Atanásio brasileiro”.
Dom Vital, embora fosse tão jovem, trazia consigo a experiência vivida no claustro capuchinho e os conhecimentos adquiridos em sua formação religiosa e sacerdotal, tanto no seminário diocesano quanto na Ordem Capuchinha. Isso o ajudou e muito no pastoreio das ovelhas que lhe foram confiadas. Naquela época, a diocese de Olinda contemplava o território onde hoje se encontram os estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas e partes de Sergipe e de Minas Gerais.
Dentre as várias iniciativas e ações de Dom Vital em seu breve, porém, fecundo pastoreio, podemos destacar as seguintes: sugestão da divisão da diocese para um maior atendimento pastoral; melhoria na formação do Seminário de Olinda; fundação de um jornal, objetivando uma melhor comunicação com seus diocesanos; concessão de alforria aos escravos do Palácio episcopal; redação de várias cartas pastorais e circulares, orientando o clero e os fiéis; visita pastoral em diversas paróquias etc.
Em comunhão com a Igreja e com os decretos papais, enfrentou destemidamente a maçonaria e o governo imperial. Em 1874 foi julgado e condenado a 4 anos de prisão com trabalhos e custas. Quando lhe foi dada a oportunidade de se defender, respondeu apenas: “Jesu tacebat”. Junto com ele, e pela mesma razão, foi condenado o bispo do Pará, Dom Antônio de Macedo Costa. Diante da injusta prisão de seus pastores, houve uma grande reação dos povos pernambucano e paraense, que contaram com a solidariedade de pessoas de outros estados, até mesmo de outros países. O próprio Papa Pio IX fez seus protestos ao imperador Pedro II em prol da libertação dos bispos. Aos 17/09/1875, diante da pressão popular, dos rogos do papa e de outros bispos e da insistência do Duque de Caxias e seu ministério, Dom Pedro II aprovou a libertação dos bispos de Olinda e do Pará.
Libertado do cárcere, Dom Vital foi a Roma, em visita ad limina apostolorum, sendo recebido paternalmente por Pio IX, que o aprovou em todos os seus atos. Quis reencontrar confrades e amigos, por isso esteve visitando diversos lugares, entre os quais, os santuários de Lourdes e Assis. Regressou à sua diocese, aportando no Recife e sendo recebido triunfalmente a 06/10/1876. Naquele mesmo ano visitou a corte e retomou os trabalhos na administração diocesana. Empreendeu uma visita pastoral, passando por várias paróquias. Mas, já voltou enfermo.
Aconselhado pelos médicos, Dom Vital viajou para a França em busca de tratamento. Mas não houve remédio que lhe desse cura. Hospedado no convento dos capuchinhos de Paris, recebeu os últimos sacramentos. Ao receber o Viático, disse: “Perdoo de coração aos meus inimigos e ofereço a Deus o sacrifício da minha vida”. Faleceu no dia 04/07/1878, aos 33 anos de idade, 15° de sua Profissão religiosa e 7° de seu Episcopado. Surgiram muitos comentários e até mesmo afirmações de que o mal que o vitimara foi fruto de envenenamento. Monsenhor De Ségur, na oração fúnebre, por ocasião das exéquias, afirmou veementemente que Dom Vital morreu envenenado. Foi sepultado na França, mas em 1882 seus restos mortais foram trasladados para o Brasil. Hoje, repousam em um mausoléu, na Basílica de Nossa Senhora da Penha, em Recife, anexa ao convento dos capuchinhos.
Dom Vital morreu com fama de santidade. Os anos se passaram e, por várias razões, o seu processo de canonização foi iniciado somente na década de 1930. Nas décadas subsequentes até o final da década de 1970, houve grande efervescência devocional em torno de Dom Vital. Contudo, o processo só foi concluído em 2001 quando toda a documentação foi remetida ao Dicastério para as Causas dos Santos. No momento, estamos na fase final da elaboração da Positio. Os próximos passos serão: as consultas histórica e teológica e a sessão ordinária dos bispos e cardeais, para que possamos obter o decreto de Venerável.
O jovem bispo de Olinda buscou corresponder ao chamado de Deus e não mediu esforços para servir à causa do Reino, defendendo corajosamente a fé, transmitindo esperança a todos, praticando o amor a Deus e ao próximo. Testemunhas da época relatam que era um homem de oração e que recebia, cordial e amavelmente, a todos. Pobre como aquele de Assis, dormia numa esteira e nos seus aposentos reinava a simplicidade, e quando moribundo, perguntado se queria fazer um testamento, disse que nada possuía. Assim sendo, para que tivesse um sepultamento digno, contou-se com a colaboração financeira de amigos franceses e brasileiros.
Dom Vital é um modelo de fidelidade para todos os cristãos e um exemplo de pastor abnegado, fiel, desapegado e comprometido com o Reino. Um pastor que exerceu seu múnus, consciente de sua missão de apóstolo sempre em comunhão com o sucessor de Pedro. Vivendo num mundo carente de referenciais, encontramos em Dom Vital um referencial de fé, esperança e caridade; um cristão com a têmpera dos mártires e a ousadia própria dos apóstolos. É dele a frase: “Peçam-nos o sacrifício de nossos cômodos; peçam-nos o sacrifício de nossas faculdades, peçam-nos o sacrifício de nossa saúde; peçam-nos o sangue de nossas veias… Mas pelo santo amor de Deus não nos peçam o sacrifício de nossa consciência, porque nunca o faremos. Sic nos Deus adjuvet. Nunca!”.
Contatos e relatos de graças alcançadas: causadedomvital@gmail.com