Arquidiocese de Olinda e Recife
(Leituras: Is 61,1-3ª.6ª.8b-9 – Ap 1,5-8 – Lc 4,16-21)
Meus queridos presbíteros, diáconos, religiosos/as, seminaristas, povo de Deus aqui reunido, radiouvintes. Minha saudação fraterna em Cristo Jesus! Saúdo-os hoje, de maneira especial, com as palavras do Apóstolo São João, no texto do Apocalipse que escutamos (na segunda leitura). “A vós graça e paz da parte de Jesus Cristo, a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra. A Jesus, que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e que fez de nós um reino de sacerdotes para seu Deus e Pai, a ele a glória e o poder, em eternidade, amém.” Dentre vocês, gostaria de destacar aqueles que pela primeira vez têm a graça de participar desta Missa do Crisma na condição de presbítero, e conosco renovar seu compromisso sacerdotal. Vem à minha mente também os que estão impedidos de estar aqui por motivo de doença ou por outra razão, porém, encontram-se sintonizados conosco em espírito de oração.
Em primeiro lugar, quero dizer a cada um de vocês, meus amados presbíteros e diáconos, meu muito obrigado por aquilo que vocês são e fazem pela Igreja. Do mais íntimo do meu coração vos asseguro: amo-vos e desejo vos amar sempre mais. Peço perdão pelas minhas falhas e ao mesmo tempo digo de coração que não carrego nada do nosso passado a não ser a certeza do amor e da misericórdia de Deus por cada um de nós. Somos todos diferentes, e nisto está a beleza e a riqueza de nossa Santa Igreja. Em nossa fragilidade, enquanto presbíteros e diáconos, Deus nos confiou a missão de pastorear esta porção do povo de Deus que está em Olinda e Recife e hoje somos convidados a renovar conjuntamente nosso propósito de servir com renovado amor nosso povo tão querido, confiados unicamente na graça de Deus que nunca vai nos faltar.
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Nesta manhã, quando nos preparamos para iniciar o Tríduo Pascal, o evangelista Lucas nos recorda o início da missão de Jesus, quando na sinagoga de Nazaré, sua terra, fazendo uso do texto do profeta Isaías afirma: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação dos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor”. O projeto libertador do Mestre deve modelar o projeto de vida dos discípulos. Como escolhidos e enviados para colaborar mais intimamente com a missão de Jesus, temos hoje a oportunidade de rever nossa adesão e procurar sempre mais modelar nossa vida na palavra e no testemunho daquele que nos chamou e que segue à nossa frente apontando-nos o caminho.
O nosso povo está cansado das más notícias, ao ponto de serem tentados a desanimar e até perder a esperança. Muitos se encontram com o coração ferido, machucado pela injustiça, discriminação, violência, ódio e tantos outros males. Recordo, por exemplo, as vítimas do tráfico humano de quem temos falado tanto nesta CF 2014. Por outro lado, o povo está com os olhos fixos em nós e desejoso de escutar uma boa notícia de nossos lábios, através de nossas homilias e do nosso testemunho pessoal, especialmente, na defesa e solidariedade para com os pobres. Os cativos anseiam por nossa presença encorajadora; os cegos querem nos tocar e escutar porque veem nos pastores a luz que os ajudará a caminhar nas trevas física e espiritual; os oprimidos anseiam por uma palavra profética que os liberte da opressão em que vivem e lhes possibilitem recomeçar. Devemos estar sempre lembrados que a nossa missão é proclamar o ano da graça do Senhor, porque Jesus vive e é esse mistério que teremos alegria de celebrar na Páscoa que se aproxima.
Na Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis o papa João Paulo II – que será canonizado no próximo dia 27 de abril (Domingo da Divina Misericórdia) adverte: “O pregador deve ser o primeiro a desenvolver uma grande familiaridade pessoal com a Palavra de Deus: não lhe basta conhecer o aspecto linguístico ou exegético, sem dúvida necessário; precisa se aproximar da palavra com o coração dócil e orante, a fim de que ela penetre a fundo nos seus pensamentos e sentimentos e gere nele uma nova mentalidade. Faz-nos bem renovar cada dia e especialmente cada domingo, o nosso ardor na pregação da homilia, e verificar se, em nós mesmos, cresce o amor pela Palavra que pregamos” (698 e 696). O atual papa Francisco, por sua vez, com sua linguagem simples, clara e corajosa, falando sobre homilia na Evangelii Gaudium afirma: “A homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e a capacidade do encontro de um pastor com o seu povo. (…) Ela não pode ser um espetáculo de divertimento, mas deve dar fervor e significado à celebração. É um gênero peculiar, já que se trata de uma pregação no quadro de uma celebração litúrgica; por conseguinte, deve ser breve evitando que se pareça com uma conferência ou uma aula. O pregador pode até ser capaz de manter vivo o interesse das pessoas por uma hora, mas assim a sua palavra torna-se mais importante que a celebração da fé. (…) Se não se detém com sincera abertura a escutar esta Palavra, se não deixar que a mesma toque a sua vida, que o interpele, exorte, mobilize, se não deixar tempo para rezar com a Palavra, então na realidade será um falso profeta, um embusteiro ou um charlatão vazio” (EG nºs. 125/138/151). Palavras aparentemente duras, porém, objetivas e carregadas de desejo de que verdadeiramente as homilias cumpram o seu papel de ajudar a compreensão da Palavra e motivar a sua prática.
Nesta Missa da renovação do compromisso sacerdotal, gostaria também de encorajá-los a viver, cada vez mais, a graça desse ministério com bastante sensibilidade missionária, no espírito do que nos ensina Aparecida, quando apela à conversão pastoral. Recordo o importante texto já tão conhecido de todos nós: “A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de conservação para uma pastoral decididamente missionária. Assim será possível que o único programa do Evangelho continue introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial com novo ardor missionário, fazendo com que a Igreja se manifeste como mãe que vai ao encontro, uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária” (DAp.370). Enquanto presbíteros e diáconos, precisamos assumir, com empenho e determinação, esse compromisso de “conversão pastoral”. Para isso esforcemo-nos para crescer na capacidade de rezar, amar e servir; façamos uso de todos os meios ao nosso alcance para sermos evangelizadores vibrantes e atualizados, inclusive, fazendo uso das novas mídias tão recomendada nas mensagens dos três últimos papas para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Os leigos, em nossas comunidades paroquiais, se ressentem quando percebem frieza, falta de entusiasmo e iniciativa da parte dos seus pastores.
Temos um grande desafio diante de nós: de um lado, a pesquisa fornecida pela Assembleia Legislativa que nos afirma que apenas 44% da população do grande Recife se declara católica; por outro, um precioso instrumento de trabalho, o nosso Plano de Pastoral aprovado em nossa última Assembleia Arquidiocesana. Se não nos esforçarmos por implementar suas propostas de ação em âmbito paroquial, vicarial e arquidiocesano, de nada servirá o precioso tempo que gastamos para construí-lo. As comunidades contam muito com seus pastores e demonstram interesse pela missão evangelizadora. No início do último capítulo da Evangelium Gaudium que tem por tema “Evangelizadores com Espírito”, o papa Francisco nos ensina: “Uma evangelização com espírito é muito diferente de um conjunto de tarefas vividas como uma obrigação pesada, que quase não se tolera ou se suporta como algo que contradiz as próprias inclinações e desejos. Como gostaria de encontrar palavras para encorajar uma ação evangelizadora mais ardorosa, alegre, generosa, ousada, cheia de amor até ao fim e feita de vida contagiante! Mas sei que nenhuma motivação será suficiente, se não arde nos corações o fogo do Espírito. Em suma, uma evangelização com espírito é uma evangelização com o Espírito Santo, já que Ele é a alma da Igreja evangelizadora. Antes de propor algumas motivações e sugestões espirituais, invoco uma vez mais o Espírito Santo; peço-Lhe que venha renovar, sacudir, impelir a Igreja numa decidida saída para fora de si mesma a fim de evangelizar todos os povos” (EG/ 261).
Nossa Arquidiocese de Olinda e Recife é uma Igreja que sempre foi marcada pela coragem, vitalidade missionária e pelo engajamento pastoral de um povo disponível e sensível aos desafios pastorais, sobretudo na dimensão social. Foram tantos os pastores: bispos, padres e diáconos, além dos inúmeros leigos militantes pela causa do Evangelho, que por aqui passaram e deixaram um legado de luta e testemunho de amor à Igreja. Hoje, somos nós os responsáveis para continuar a missão. Sintamo-nos, portanto, privilegiados por vivermos esse kairós (tempo de Deus), e procuremos nos esforçar por implantar o Reino de paz, justiça e fraternidade que Jesus Cristo nos confiou.
O texto do Apocalipse que escutamos na segunda leitura, recorda-nos que Deus fez de todos nós um novo e definitivo povo sacerdotal. O conceito de sacerdócio implica no de consagração, cujo sinal exterior é a unção com o óleo santo. Por isso a Igreja continua a consagrar o óleo que servirá para assinalar a fronte dos seus filhos e filhas. Conforme a tradição, nesta Missa iremos consagrar o Santo Crisma para significar o dom do Espírito Santo no Batismo, na Confirmação e na Ordem.
Abençoaremos também o óleo para os Catecúmenos e os Enfermos, sinais da força que liberta do mal e sustenta na provação da doença. Estes santos óleos, distribuídos para toda a nossa arquidiocese será sinal de unidade e fonte de bênçãos, para todos os que com ele forem ungidos.
Acompanhemos com atenção e piedade esse rito, após a renovação das promessas sacerdotais que faremos agora.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife