Na manhã desta segunda-feira, 03/02 (9h), o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Antônio Fernando Saburido presidiu a Missa de Posse do novo Presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), desembargador Fernando Cerqueira. A celebração Eucarística em Ação de Graças foi realizada na igreja da Ordem Terceira de São Francisco, na Rua do Imperador, bairro Santo Antônio, região central do Recife.
Em sua homilia, o arcebispo metropolitano de Olinda e Recife, refletiu sobre a profecia de Isaías: “O profeta Isaías nos lembra, até de forma poética, que se nos abrimos ao Espírito de Deus e o deixamos agir em nós, ele transformará os desertos em jardins. Hoje, vivemos um modelo socioeconômico que, como tantas vezes denuncia o papa Francisco transforma, ao contrário, jardins em desertos, mesmo que sejam desertos verdes, cobertos de eucaliptos, canaviais e outros, para indústrias de papel, açúcar e álcool ou de soja transgênica para exportação. Seremos instrumentos do Espírito de Deus se, através de nossa atuação, os desertos se transformarem em jardins, o sertão árido em terra fértil e aprazível”.
Para a tarde desta segunda-feira, às 15h, está prevista a Sessão Solene de Posse e a transmissão do cargo de presidente do TJPE. no Palácio da Justiça, também localizado na Rua do Imperador. A cerimônia ocorrerá na Sala de Sessões Desembargador Antônio de Brito Alves, no primeiro andar do prédio. Na ocasião, o desembargador Adalberto de Oliveira Melo apresenta um balanço do biênio 2018 | 2020, que teve como lema “Inovando para pacificar e unir”, com foco nos investimentos em pessoal e infraestrutura. Após os ritos cerimoniais, o novo presidente do Tribunal, desembargador Fernando Cerqueira, toma posse, assim como os novos dirigentes da Corte.
Depois da posse, os integrantes da nova Mesa Diretora se dirigem ao Salão Nobre do Palácio da Justiça, no segundo andar do prédio, onde recebem os cumprimentos. Diversas autoridades dos três poderes, a exemplo do corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, confirmaram presença.
A gestão do desembargador Adalberto de Oliveira Melo à frente do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) termina em 3 de fevereiro. Nesse dia, a cadeira de chefe do Judiciário estadual passa a ser ocupada pelo atual corregedor-geral da instituição, desembargador Fernando Cerqueira. Também integram a nova Mesa Diretora, para o biênio 2020 | 2022, os desembargadores Eduardo Paurá (primeiro vice-presidente), Cândido Saraiva (segundo vice) e Luiz Carlos Figueiredo (corregedor-geral). Os magistrados foram eleitos pelo Pleno, formado por 52 desembargadores, em 30 de outubro de 2019.
Confira abaixo a íntegra da homilia de Dom Fernando Saburido:
Missa de posse do Presidente do Tribunal de Justiça
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco
(Is 32,15-18; Sl 71(72),2.3-4ab.7-8.12-13.17; Mt 5,1-12ª)
Queridos irmãos e irmãs,
Quando escutamos a Palavra de Deus na assembleia litúrgica, principalmente o evangelho de Jesus, é importante que recebamos essa Palavra como boa notícia para nossas vidas e, ao mesmo tempo, descubramos nela novo apelo de Deus para nossa missão.
Nessa eucaristia, rendamos graças a Deus que nos deu inteligência, discernimento e coragem para defender a justiça, colaborando com a construção de um mundo novo de paz e de fraternidade no amor.
As duas leituras que acabamos de ouvir parecem terem sido pensadas para a nossa sociedade hoje. Como se mostra atual o profeta Isaías ao nos lembrar, até de forma poética, que se nos abrimos ao Espírito de Deus e o deixamos agir em nós, ele transformará os desertos em jardins. Hoje, vivemos um modelo socioeconômico que, como tantas vezes denuncia o papa Francisco transforma, ao contrário, jardins em desertos, mesmo que sejam desertos verdes, cobertos de eucaliptos, canaviais e outros, para indústrias de papel, açúcar e álcool ou de soja transgênica para exportação. Seremos instrumentos do Espírito de Deus se, através de nossa atuação, os desertos se transformarem em jardins, o sertão árido em terra fértil e aprazível.
Que alegria podermos escutar hoje como dirigidas a nós as bem-aventuranças que Jesus proclamou na montanha como nova carta da aliança do reino de Deus. Ele declara bem-aventurados, isso é, reconhecidos como pessoas do lado de Deus, os pobres, os pequenos, os que têm fome e sede de justiça. Ele tinha à sua frente um público diversificado, proveniente de várias regiões. Entre eles nos sintamos incluídos e contestados ao escutar, hoje e nesta circunstância, a Boa Nova da Salvação. As bem-aventuranças dizem respeito a toda a humanidade e não se referem apenas a sentimentos e emoções pessoais. São proclamações de situações humanas que o reino de Deus quer transformar. As quatro primeiras se referem aos pobres que assumem ser pobres, aos que choram, aos pequenos e aos que têm fome e sede de justiça. O evangelho de Mateus os chama de “pobres em espírito”. Lucas escreve que Jesus se dirige diretamente a eles “Bem-aventurados vocês que são pobres”. Não por serem melhores do que outros ou porque tenham algum mérito pessoal. Mas, porque se Deus é Pai e é amor, não aceita ver seus filhos e filhas em uma situação de tanta injustiça e sofrimento.
As bem-aventuranças proclamadas por Jesus revelam a triste situação social, econômica e política que o povo vivia na Palestina naquela época. É sempre impressionante vermos que a primeira palavra do primeiro discurso de Jesus no evangelho é para anunciar aos pobres que o reino de Deus, isso é, o projeto divino para o mundo se destina a eles. Portanto, eles vão poder deixar de ser pobres, os que choram serão consolados e os que têm fome e sede de justiça serão saciados. Durante muito tempo, a maior parte dos pregadores interpretavam que Jesus se referia a uma transformação da realidade depois desse mundo, em um céu depois da morte. No entanto, as curas e todas as atividades de Jesus na Galileia revelam que o futuro que Deus deseja para o mundo deve começar aqui e agora. Na oração que ensinou aos discípulos, Jesus nos manda pedir, não que nós possamos ir para o reino de Deus e sim que esse reino venha a nós, se revele presente aqui nesse mundo. Todos nós temos responsabilidade com a concretização dessa profecia de Jesus.
As quatro últimas das nove bem-aventuranças desenvolvem mais atitudes pessoais e humanas, inspiradas pela experiência do reinado divino em nossas vidas e que revelam a ação de Deus já presente entre nós.
Estamos aqui para agradecer ao Senhor o trabalho realizado pelo Des Adalberto de Oliveira Melo e rezar pela missão do seu sucessor Des Fernando Cerqueira, que durante o biênio 2020 a 2022 estará à frente do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Também rendemos graças pela eleição do novo corregedor geral do Estado – Luiz Carlos Figueiredo e demais magistrados eleitos. A todos, nossa gratidão e esperança. No entanto, ao dar graças, queremos também invocar o Espírito Santo para que em nosso Estado e nosso país, a Justiça não seja apenas a administração mecânica de leis e instituições, pensadas em uma sociedade que aparece no mundo como o terceiro país em desigualdade social e sim como o horizonte humanizador dessa realidade para progressivamente transformá-la em uma sociedade de justiça e de paz. O profeta Isaías nos assegura que “a paz é fruto da justiça”.
Dom Helder Câmara, meu querido predecessor no cargo de Arcebispo de Olinda e Recife, agora reconhecido na Igreja Católica como “Servo de Deus”, em muitos de seus pronunciamentos afirmava que estamos sentados sobre um barril de pólvora. E não resolveremos essa situação com repressão policial e distribuindo armas para a população. Somente a justiça proclamada por Jesus nas bem-aventuranças, justiça organizada a partir dos mais pobres e frágeis, pode trazer paz e uma estabilidade social baseada no bem-viver para todos. Foi a revolução que São Francisco de Assis promoveu e estamos celebrando em uma Igreja a ele dedicada.
Na nossa região há algumas situações que pedem urgentemente uma solução de mais justiça. A cada dia, prossegue em nossas periferias o extermínio de jovens pobres, a maioria deles negros. Não basta culpar o tráfico ou a guerra entre bandos criminosos. É preciso parar esse verdadeiro genocídio do qual nem temos as cifras exatas, mas é vergonhoso. Sem dúvida, tudo depende de investimento sério na educação e nos direitos básicos como trabalho, saúde e moradia, Precisamos pensar nossas cidades não apenas para as empreiteiras e os consórcios milionários e sim como cidades abertas a todos os seus cidadãos.
A eucaristia que celebramos quer ser sinal e profecia. Aqui nós vamos partilhar o mesmo pão para afirmar a Deus e ao mundo que queremos um mundo de partilha no qual vivamos a comunhão de filhos e filhas de Deus sem discriminações e no qual a justiça correrá como rio de águas vivas. Esse bom propósito, motivou-nos na escolha do tema “Pão em todas as mesas” para o XVIII Congresso Eucarístico Nacional, que o Recife sediará em novembro próximo. O encargo de defender a justiça será de maior responsabilidade dos nossos irmãos eleitos para esses cargos da Justiça Institucional e de todo o judiciário, mas é também de todos nós cristãos que somos chamados a viver a fome e a sede de justiça que Jesus vem nos trazer.
Amém!
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife
(Pascom AOR, com informações e fotos do site TJPE/Fotos: Assis Lima)