Manifestou-se a bondade de Deus, nosso Salvador e o seu amor pela humanidade” (Carta a Tito 3, 4).

Queridos irmãos e irmãs,

Esta palavra do apóstolo que a tradição da Igreja nos faz ouvir na Missa da Aurora, celebrada no dia do Natal, nos revela o motivo fundamental da nossa ação de graças na festa em que celebramos a vinda do Senhor em nossa humanidade: ao manifestar sua presença no menino nascido em Belém, Deus assume nossa carne e nos chama todos a sermos cada vez mais humanos. Humanos como Jesus.

Se acreditamos realmente que no Natal, “a Palavra se fez carne” (Jo 1, 14), vamos nos empenhar em fazer da palavra não arma que divide e opõe as pessoas umas às outras e sim sacramento que une e confirma a humanidade de que Deus nos ama e nos chama todos e todas à fraternidade, como insiste o papa Francisco em sua encíclica Fratelli Tutti.

Desde outubro deste ano de 2021, o papa Francisco espera que realizemos a fase diocesana do processo sinodal, através de consultas e diálogos que envolvam o maior número possível de pessoas, tanto as mais ligadas à vida interna da Igreja, como mesmo pessoas que comumente não estão envolvidas e queiram participar e dar sua opinião sobre o que esperam da nossa Igreja. O papa nos pede que ouçamos a todos e todas. Isso fará com que a próxima sessão do Sínodo dos Bispos não seja apenas um encontro do episcopado e sim manifeste, de fato, a vocação sinodal de toda a Igreja. Como afirmou em seu estudo, a Comissão Internacional de Teologia, a sinodalidade é o modo normal da Igreja ser.

A celebração deste Natal pode nos ajudar a viver isso não apenas como trabalho extraordinário e sim como modo de viver a fé na encarnação do Cristo. Se Deus tomou a iniciativa do diálogo com a humanidade, é tarefa nossa testemunhar e atualizar esse diálogo. Por isso, o esforço de darmos um rosto mais participativo e sinodal às pastorais da arquidiocese e a cada paróquia, além de corresponder ao pedido do papa, é um caminho de espiritualidade natalina.

Neste ano, além da pandemia que continua nos ameaçando com novas variantes do vírus, é muito triste ver como a desigualdade social aumenta de forma criminosa e agrava o desemprego e a insegurança alimentar em cada vez maior número de famílias.

Foto: IAM Santo Antônio – Cabo

É significativo que, até o novo Missal Romano de 1968, na festa de Corpus Christi e nas missas votivas do Santíssimo Sacramento, o prefácio era o mesmo da festa do Natal. Essa relação entre o mistério da Encarnação no Natal e a presença do Cristo na eucaristia nos faz pensar no 18º Congresso Eucarístico Nacional que, se Deus quiser, celebraremos no Recife neste novo ano de 2022. O melhor modo de o prepararmos será empenharmos todo o nosso esforço para que haja “pão em todas as mesas”. Que cada uma de nossas celebrações da Eucaristia sinalize, realmente, uma abertura à partilha e à comunhão humana. É preciso que iniciativas como a Casa do Pão que abriremos na arquidiocese se torne referência para todas as paróquias e possa suscitar outras iniciativas de solidariedade e comunhão com os mais pobres.

Neste Natal volto o meu pensamento e minha oração de pastor por cada um dos nossos bispos, padres, diáconos, religiosos/as, irmãos e irmãs que atuam nas diversas pastorais. Desejo a todos e todas um Natal cheio de paz e de alegria, testemunhando a presença divina em cada pessoa humana, especialmente nos mais pobres e vulneráveis.

Deus nos abençoe e nos fortaleça na missão de sermos testemunhas da humanidade de Deus, nosso Salvador.

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB

Arcebispo Metropolitano