Segunda páscoa da pandemia

 “Mesmo as trevas não são trevas para Ti. A noite é luminosa como o dia” (Salmo 139,12).

Essa palavra do Salmo que a Igreja canta no precônio pascal, como que anunciando ao mundo que chegou a Páscoa, nesta celebração pascal de 2021 se faz mais do que nunca profecia do que estamos vivendo. Ninguém de nós imaginaria que, após mais de um ano de pandemia e de sofrimentos de todo tipo para cada um de nós e para todo o nosso povo, ainda temos de celebrar esta Páscoa, tendo diante dos olhos, muito mais o mistério da cruz e da morte do que os sinais de ressurreição e vida que a Páscoa nos anuncia. 

Esta celebração que somos obrigados a viver ainda no distanciamento social é mais necessária do que nunca. Ela vem transformar nossa noite em vigília, isto é, vem nos convocar para nos manter de pé, em atitude de vigilância amorosa e de espera confiante.

A noite pascal resume todas as noites de ontem e de hoje como sendo vigílias da humanidade. Recorda-nos a noite em que uma mãe pobre passa acordada a cuidar de um filhinho com febre; os muitos tipos de trabalhos que exigem dos profissionais passarem a noite despertos para ganhar o sustento de suas vidas; sobretudo, nestes tempos de pandemia, as noites de tormento dos doentes, familiares e também dos profissionais da saúde, trabalhando em situações de risco e assegurando aos irmãos e irmãs enfermos o mínimo de humanidade e respeito. 

É doloroso saber que a cada dia, no Brasil, aumenta o número de pessoas que estão morrendo devido à crueldade do vírus, mas também pela insensatez de uma parte da sociedade e de autoridades que persistem em negar a realidade.

Em meio a tudo isso, podemos sempre vislumbrar as ações de solidariedade e os gestos de esperança e comunhão. São atitudes eminentemente pascais. São sinais que nos indicam que podemos fazer da noite, mesmo da noite mais escura, uma luminosa vigília de Páscoa.

Somos chamados a continuar o caminho das santas mulheres que encontram o túmulo vazio e são enviadas a anunciar aos apóstolos que Jesus ressuscitou e nos espera nas Galileias de nossa região, em meio aos mais pobres e sofridos, como Jesus iniciou e culminou sua missão.

O evangelho de João nos recorda: “Jesus morreu para reunir na unidade todos os filhos de Deus dispersos” (Jo 11, 52). Mais do que nunca, devemos nos perguntar se estamos dispostos a continuar esta missão de Jesus, sendo fermento de unidade para o povo já tão sofrido. O nosso saudoso dom Helder Camara já nos dizia: “Quanto mais escura é a noite, mais luminosa será a madrugada”. Esta é a nossa esperança: “Jesus ressuscitou, o mundo está salvo”.

Desejo a cada um e cada uma de vocês uma santa e renovadora Páscoa, mesmo através das celebrações virtuais e das orações em casa, e renovo a todos e todas minha bênção pascal.

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife

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