A vida inteira de Jesus de Nazaré foi uma escola; tinha um projeto bem definido e uma metodologia que se adequava a qualquer situação. Qualquer espaço era espaço educativo. Se a gente observa bem, pode-se classificar a ação pedagógica de Jesus como revolucionária para a época; não age como os doutores da lei e os fariseus, considerados mestres do povo. Ainda pequeno debate com os doutores no templo; encontra-se sozinho em lugar público (poço de água) com uma mulher estrangeira e pecadora; dependendo da situação reúne-se com um trio (Pedro, Tiago e João); ou com um grupo (os doze) ou um grupo maior (os 72) ou ainda com a multidão. Seu jeito de educar inspirou até cancioneiros da música popular brasileira que fizeram o Brasil inteiro cantar: “Ei, irmão, vamos seguir com fé, tudo o que ensinou o homem de Nazareth. (…) Não cursou nenhuma faculdade, mas na vida Ele foi doutor; Ele modificou o mundo inteiro; Ele revolucionou o mundo inteiro”.
A época de Jesus não era tão diferente da nossa: o povo vivia esmagado por duas forças: a política e a religião. O governo local, apoiado pelo império romano, excluía e discriminava as pessoas, comunidades ou clãs; a lei de Deus era usada pelas autoridades, para justificar a exclusão. Ao contrário, o Reino de Deus que Jesus anunciava era a proposta de fraternidade que Deus sonhou para todos e não uma observância a ser cobrada ou uma doutrina a ser imposta.
Certamente Jesus frequentou escola, pois a Bíblia diz: ‘na sinagoga levantou-se para ler’ e depois de ler ‘enrolou o livro, entregou ao servente e sentou-se’ (Lc 4, 17-20). Apesar de letrado, não ensinava só na sinagoga, mas em qualquer lugar que houvesse gente para ouvi-lo: deserto, barco, monte, caminho, casa etc. Mas a verdadeira escola de Jesus era a vida: o evangelista comenta: Jesus ‘crescia tanto em estatura como em sabedoria’ (c. 2, 52).
A exemplo dos rabinos da época, mas de forma diferente, Jesus reúne, ao redor de si, discípulos. Os discípulos seguem o mestre por onde quer que vá, não importa por onde, mesmo que tenha de carregar uma cruz ou subir o calvário. O caminho do mestre nem sempre é fácil; aqui dá atenção especial aos excluídos, ali chama atenção para os fracos do povo e, mais na frente, atenta para a atitude de serviço. Em nossas escolas, a relação que se dá é, entre professor-aluno; há muitos professores e poucos mestres e sua relação com os alunos é mais ‘magisterial’ (trabalho do grande = magis) que ‘ministerial’ (trabalho do pequeno = minis); mais ‘professoral’ que de serviço e de testemunho.
No jeito diferente de Jesus educar, a relação é discípulo-mestre. O mestre dá testemunho e o discípulo segue. Era comum, em Jesus, usar a sabedoria popular (ex. ‘médico, cura-te a ti mesmo’ Lc. 4, 23-24), fatos da vida ou ainda histórias bem conhecidas para popularizar mais seus ensinamentos. O ensino de Jesus não era distante da vida do povo; quando ensina usa parábolas. Os doutores da lei, rabinos e escribas (letrados, formados em escolas) ensinavam que Deus só se manifestava na observância da lei. Jesus, ao contrário, contesta e diz: ‘o Reino de Deus já está presente no meio de vocês’ (Lc. 17, 20).
O ensino de Jesus, ao contrário de apelar para a lei, era ‘novo’ e ‘dado com autoridade’. A autoridade de seu ensino era sua coerência de vida e sua aproximação com os considerados ‘ignorantes’ e excluídos pelos letrados da época. No episódio da mulher samaritana e dos discípulos de Emaús, a pedagogia de Jesus se revela assim muito humana: tem sucesso e tem fracasso; quando não dá certo de uma forma, dá de outra.
Luiz Moura,
mestre em educação pela Université du Québec à Hull (Canadá),
professor da Unicap e da Fafire,
presidente da comissão de pastoral para a Educação da Arquidiocese de Olinda e Recife.