Os Cinquenta dias que decorrem desde o Domingo da Ressurreição até ao Domingo de Pentecostes, inclusive, são celebrados com alegria e júbilo, como se fora um único dia de festa, mais, como se fora um “grande domingo” (Cerimonial dos Bispos, 371). Como já haviaindicado Tertuliano (160-220)e repetiram outros escritores eclesiásticos, a Páscoa cristã se prolonga por cinquenta dias, nos quais a Igreja celebra um único e mesmo Mistério: Cristo Ressuscitado, que é glorificado como Kyrios(Senhor), à direita do Pai na Ascensão, e envia o Espírito Santo em Pentecostes. Dentro desta unidade teológico-celebrativa,podemos distinguir os seguintes elementos estruturais:

O Domingo de Páscoa: Originariamente, o Domingo da Ressurreição não teve outra celebração que a Vigília Pascal, ao amanhecer. Quando a Eucaristia se adiantou para meia noite, começou-se a celebrar o Domingo da Ressurreição e durante o século V foi introduzida a Missa da manhã do Domingo de Páscoa, considerada desde a época de São GregórioNazianzeno (329-389) como festividade das festividades. A liturgia atual prevê que se celebre a Missa do dia de Páscoa com a máxima solenidade. Destaque, neste dia, para a Sequência VictimaePaschalilaudes, composição provavelmente do Século XI.

Oitava dePáscoa: Ao longo do século V ganharam importância especial os oito dias que seguem aPáscoa. A Igreja considera como um único dia de festa. Na liturgia atual, a Oitava dePáscoa é uma evocação continuada dasaparições do Ressuscitado, narradas pelos quatro evangelistas. Nestes dias, canta-se o hino de louvor.

Os Domingos e dias da semana de Páscoa: Os domingos do tempo Pascal são chamados II, III, IV, V, VI e VII da Páscoa. O Segundo Domingo ganhou recentemente o nome de Domingo da Divina Misericórdia, por desejo do Papa João Paulo II, mas continua sendo o II Domingo de Páscoa e nele se celebra Cristo Ressuscitado, o qual, com certeza, é misericordioso. O IV Domingo de Páscoa, embora nele se escute o Evangelho do Bom Pastor, não é liturgicamente assim chamado. Nestes domingos assim como nos dias de semana, cruzam-se a mensagem pascal da ressurreição de Jesus Cristo, a alegria daIgreja por haver recuperado seu Esposo, a vida nova do batismo e a ação do Espírito Santo na comunidade cristã e no coração de cada fiel.

Ascensão do Senhor: Só a partir do século IV, foi generalizada a celebração da Ascensão com personalidade própria, mas estava integrada antes nos cinquenta dias da Páscoa como fato ligado à vinda do Espírito Santo. É Cristo exaltado pelo Pai como Cabeça e de cuja glória participa a Igreja como seu Corpo, primeiramente como garantia e depois como em plenitude.

Pentecostes: No princípio do Século IV, começou-se a celebrar em Roma umaVigília no quinquagésimo dia da Páscoa, de idêntica solenidade a da Vigília Pascal. Até então Pentecostes era a conclusão do Tempo Pascal.  A liturgia atual quer viver o dia dePentecostes como encerramento dos Cinquenta dias de Páscoa. Na verdade, a Páscoa de Cristo consuma-se com a efusão do Espírito Santo. É Cristo, o Senhor, que derrama profusamente o Espírito.

A Páscoa ou o Mistério Pascal constitui o centro em torno do qual girao ano litúrgico. Na liturgia, de algum modo, todas as celebrações são sempre celebrações pascais. Dada a importância da Páscoa, esses dias devem ser vividos intensamente nas celebrações de nossas paróquias e comunidades. “Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele exultemos” (cf.Sl 117).Importante será valorizar o canto do Aleluia, sobretudo como aclamação própria antes do Evangelho.Os versículos que seguem esta aclamação pascal estão no Lecionário e expressam que Jesus Ressuscitado está presente na sua Palavra e que, sem dúvida, os seus pés feridos são belos eEle vem anunciar Paz a todos. Muito mais serão expressivas estas verdades cantando solenemente o Aleluia.

Neste tempo, não são permitidas Missas para diversas necessidades ou votivas, a não ser que haja uma grande exigência pastoral. Sempre indagamos se há realmente essa necessidade pastoral de celebrar, na Páscoa,por exemplo, a Missa votiva do Sagrado Coração de Jesus.As Missas pelos defuntos sejam celebradas de acordo com os formulários próprios para o tempo pascal.  Não haverá tempo melhor para celebrar pelos falecidos que quando celebramos a ressurreição de Cristo. Não há necessidade de mudar as leituras nem os formulários da Missa. Aqui uma atenção especial: o folheto da chamada Missa da Esperança, muito usado nas missas de sétimo e trigésimo dia, não tem lugar e não deve ser seguido neste tempo. Outra observação é que o Tempo Pascal prolonga-se durante o mês de maio, tão marcado pela devoção a Nossa Senhora. A devoção mariana será muito importante nas expressões de fé nas noites do mês de maio, masdeve-se ter o cuidado para que as celebrações litúrgicas sejam pascais. A Virgem Maria também se alegra pela ressurreição de seu Filho: “Rainha do Céu, alegrai-vos, aleluia! Pois Aquele a quem merecestes trazer em vosso seio ressuscitou segundo disse, aleluia!”

De grande importância para celebrar bem o tempo pascal será a escolha de cantos litúrgicos apropriados. Os nossos cantores precisam escolher bem os repertórios das celebrações respeitando o mistério da Páscoa, não se utilizando de cantos que são executados durante o ano todo e que nem sempre são litúrgicos. Vale apena dá uma olhadinha no Hinário Litúrgico IIda CNBB.

Nas celebrações litúrgicas, bem preparadas, pelas nossas equipes de liturgias e bem celebradas pelos presbíteros ou outros ministros, poderemos viver a experiência dos discípulos de Emaús, os quais sentiram o coração arder, quando o Senhor Ressuscitado lhes explicava as Escrituras e o reconheceram ao partir o Pão. Feliz Tempo Pascal!

Padre Moisés Ferreira de Lima
Presidente da Comissão Arquidiocesana de Pastoral para a Liturgia