O detalhe de um discurso, ontem (21/12), do Papa Francisco aos membros da Cúria Romana deixou os brasileiros entusiasmados: falando sobre o amor cristão aos pobres, o Papa citou “aquele santo bispo brasileiro”, referindo-se a dom Helder Camara, repetindo dele a famosa frase “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista”.

O discurso do Pontífice foi dedicado a analisar a crise provocada pela pandemia e suas repercussões na sociedade, mas, sobretudo, na Igreja. O Papa pediu, então, um presente de Natal: a colaboração generosa e apaixonada da Cúria no anúncio da Boa Nova, sobretudo aos pobres. Foi aí que citou a frase de dom Helder.

A referência alegrou o coração dos tantos homens e mulheres que, no mundo inteiro, torcem para que dom Helder seja, oficialmente, declarado santo pela Igreja, conforme processo de beatificação e canonização em andamento.

“É evidente que a expressão ‘santo’ utilizada pelo Papa não tem a ver com o processo, mas sim com o reconhecimento da vida santa que viveu dom Helder, pela bondade, pelo homem de oração que foi, comprometido com a bem-aventurança dos que têm fome e sede de justiça”, comentou o padre Fábio Santos Potiguar, do clero da Arquidiocese de Olinda e Recife. “Foi um gesto de delicadeza do Papa, que certamente conhece o processo, mas sobretudo a certeza de que, para o líder da comunidade católica do mundo inteiro, dom Helder é um exemplo de vida cristã”, concluiu.

O postulador da causa da santidade de dom Helder na Arquidiocese de Olinda e Recife foi frei Jociel Gomes, frade capuchinho que reuniu documentos, depoimentos e a obra de dom Helder no processo que teve início em 2015. A causa está na fase romana, conduzida e acompanhada pelo postulador da congregação capuchinha, frei Carlos Calloni.  Aguarda-se, agora, que seja emitido decreto de validade jurídica da documentação enviada para a Santa Sé.

Dom Helder Camara faleceu em 1999 e atuou como arcebispo de Olinda e Recife no período de 1964 a 1985. Foi um dos criadores da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), denunciou diversos casos de violação de direitos humanos durante o regime militar no Brasil, articulou a criação da Sudene e foi indicado ao prêmio Nobel da Paz. Organizou mais de quinhentas comunidades eclesiais de base, fortalecendo a atuação social da Igreja junto aos mais pobres. 

Pascom AOR