As Campanhas da Fraternidade propostas para ter início no tempo da Quaresma têm o objetivo de motivar para a reflexão sobre assuntos atuais da maior importância e provocar a realização de gestos de caridade. Este ano o tema é: “Fraternidade e a Vida no Planeta”. O desejo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, não é simplesmente abordar, pela quarta vez, um tema ecológico, mas, falar da vida ameaçada pela própria criatura humana. Como lema, temos um atual e profético texto de São Paulo: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22). A insistência do tema ecológico mostra a preocupação da Igreja que prolonga a reflexão de 1979 “Por um mundo mais humano” – “Preserve o que é de todos”; 2004 “Fraternidade e água” e 2007 “Fraternidade e Amazônia”.

Habitamos todos no mesmo planeta e temos responsabilidades comuns, independentemente de cultura, raça, língua, poder ou religião. São evidentes, nos tempos atuais, as mudanças climáticas trazendo como consequência catástrofes ambientais, antes nunca vistas, como resultado do descaso e violência que, poderosos vêm impondo à mãe natureza. Se a humanidade não se mobilizar, deixando de lado a indiferença e ambição desmedida e fazendo uso da inteligência para o bem, estaremos apressando a contagem dos nossos dias neste planeta, criado por Deus com tanta perfeição.

O Papa Bento XVI em seu discurso de abertura da V Conferência do Episcopado Latino Americano de Aparecida afirmou: “Com muita freqüência se subordina a preservação da natureza ao desenvolvimento econômico, com danos à biodiversidade, com o esgotamento das reservas de água e de outros recursos naturais, com a contaminação do ar e a mudança climática. As possibilidades e eventuais problemas da produção de agrocombustíveis devem ser estudados, de tal maneira que prevaleça o valor da pessoa humana e de suas necessidades de sobrevivência. A América Latina possui os aquíferos mais abundantes do planeta, junto com grandes extensões de território selvagem, que são os pulmões da humanidade. Assim, se dão gratuitamente ao mundo serviços ambientais que são reconhecidos economicamente. O estilo de vida dos países desenvolvidos seria o principal causador do aquecimento global”.

De acordo com as palavras do Santo Padre é grande a responsabilidade da população da América Latina, especialmente dos países que abrigam a selva amazônica, com suas riquezas e potencialidades, administrarem este patrimônio com sabedoria para o bem de toda a humanidade.
Não foi por acaso que escolhemos o Convento de São Félix de Cantalice, no Pina, para a celebração da Quarta-feira de Cinzas e abertura da Campanha da Fraternidade 2011. Estamos próximos aos ameaçados manguezais da zona sul do Recife – pulmão desta nossa querida cidade. É preciso estar atentos a possíveis danos ambientais com a construção da chamada Linha Verde e de empreendimentos privados na área.

Hoje sofremos as consequências da grande quantidade de aterros realizados em nossa “Veneza Brasileira”, localizada primitivamente em verdadeiro arquipélago: Ilha Joana Bezerra, Ilha do Leite, Ilha do Retiro, Ilha de Santo Antônio, Ilha de Deus, etc.

Faz-se necessário dar especial atenção ao problema da poluição dos rios e praias e a situação de grande parte de nossa população carente residente nos morros e encostas, ameaçados de desmoronamento.
Voltando o nosso olhar mais adiante, percebemos as queimadas e desmatamentos, especialmente na mata atlântica, caatingas e grande parte do semi-árido nordestino.

A cada ano, com a chegada das chuvas vivemos momentos de tensão com as grandes enchentes, como aconteceu recentemente na Mata Sul do Estado, inclusive com perdas de vidas.

A exemplo de várias outras Campanhas da Fraternidade que deixaram marcas concretas, que a CF-2011 contribua para as mudanças necessárias e promoção da verdadeira vida no planeta, direito de todos os filhos e filhas de Deus.

Dom Antônio Fernando Saurido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife