Enquanto neste 07 de setembro, o Brasil comemora o dia da pátria, as comunidades cristãs latino-americanas recordam que, nesta mesma data, em 1968, encerrou-se, em Medellin, na Colômbia, a 2ª Conferência Geral do Episcopado Católico Latino-Americano. Foi esta reunião que oficializou o compromisso social e político da Igreja Católica com a completa independência e libertação de nossos povos. O padre José Comblin afirmava: “Na conferência de Medellín, aconteceu o nascimento de uma Igreja propriamente latino-americana, com rosto de nossos povos”.

O tema geral da conferência foi a missão da Igreja na transformação da América Latina. O ano de 1968 foi marcado por manifestações da juventude na Europa e por movimentos revolucionários no nosso continente. Essas tentativas de transformações sociais e políticas eram reprimidas pelo império norte-americano e por ditaduras militares que, pouco a pouco, se instalavam em nossos países. Neste contexto, foi importante os bispos católicos assumirem uma postura crítica com relação às estruturas políticas do continente. Eles denunciaram a realidade social e política latino-americana como “injustiça estrutural” e propuseram que a Igreja se colocasse como sinal e instrumento de libertação integral da humanidade e de cada ser humano.
Em Medellin, os bispos puderam aprofundar teologicamente e propor este jeito novo de ser da Igreja, porque isso já era uma experiência concreta nas Comunidades Eclesiais de Base. Nos anos 60, muitos grupos cristãos, nas periferias urbanas e no campo, começaram a estudar a Bíblia e a ligar a Palavra de Deus à vida concreta. A partir disso, muitos cristãos, jovens e menos jovens, em nome da fé, participaram de movimentos e lutas pela justiça.

Neste ano, festejamos o Sete de Setembro, com a consciência de que a verdadeira independência social, política e econômica de um país é um processo que precisa sempre ser completado e aperfeiçoado até o dia em que todos os cidadãos tenham o necessário para viver, contem com um trabalho digno e remunerado de forma justa e possam usufruir um merecido lazer na beleza da terra que Deus lhes deu.

Hoje, 43 anos depois, as palavras dos bispos latino-americanos em Medellín devem ressoar em nossas Igrejas para nos recordar que é nossa missão cristã participar desta construção de uma pátria verdadeiramente libertada e independente. Hoje, está mais do que nunca atual a proposta dos bispos latino-americanos de 1968: “Devemos dar à nossa Igreja o rosto de uma Igreja verdadeiramente missionária e pascal. Seja ela uma Igreja pobre e despojada do poder, comprometida com a libertação de toda a humanidade e de cada ser humano por inteiro” (Medellín, doc 5, n. 15).

Marcelo Barros
monge beneditino, teólogo e escritor