Retomamos, logo na segunda-feira após a solenidade de Pentecostes, o Tempo Comum tradução do latim: “Per Anum”, para a Igreja no Brasil; literalmente seria: Tempo durante o ano. Este tempo situa-se entre os dois ciclos que constituem as colunas do Ano Litúrgico: o Ciclo do Natal e o Ciclo da Páscoa. Portanto, entre a festa do Batismo do Senhor, que já é o Primeiro Domingo do Tempo Comum, e a terça-feira que antecede a celebração das Cinzas temos a sua primeira parte. A segunda começa conforme mencionamos acima. Esta parte é mais longa e se prolonga até o sábado que antecede ao Primeiro Domingo do Advento, sendo que o último domingo do Tempo Comum, o 34º, dar lugar a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
Durante este tempo, não se celebra nenhum mistério específico da vida de Cristo, mas o cotidiano da Igreja inserido no “coração da Santíssima Trindade” de onde emana toda a sua vida litúrgica.
Constituindo-se de trinta e quatro semanas tenta aprofundar o que Jesus fez e d
isse no dia a dia dos fiéis, pela ação do Espírito Santo que, ainda, exerce a função de nos conduzir à santidade e revelar toda a verdade. Tem no domingo o seu núcleo. É sempre um momento de catequese em torno de um dos evangelistas sinóticos, pois aqui temos a divisão do lecionário em anos A, B e C. O primeiro dedicado ao evangelista Mateus, o seguinte a Marcos e o terceiro a São Lucas. O evangelista João não aparece nesta divisão, pois está sempre presente nos tempos litúrgicos fortes (Natal e Páscoa). Os primeiros domingos comuns trazem a temática da Epifania e os últimos, da escatologia, por isso mesmo a solenidade de Cristo Rei estar muito bem localizada ao final desse tempo que deseja nos recordar a segunda vinda, como também, a primeira parte do Tempo do Advento.
No Tempo Comum, temos, ainda, quatro solenidades do Senhor que é uma ressonância da Páscoa: Santíssima Trindade, logo no domingo que segue ao de Pentecostes; Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, na quinta-feira da segunda semana após Pentecostes; Sagrado Coração de Jesus, na sexta-feira da terceira semana após Pentecostes. Observamos que repetimos, pedagogicamente, a solenidade da Vinda do Espírito Santo três vezes para mostrar a sua importância na vida litúrgica da Igreja e como se constitui um marco para a marcação dessas solenidades que estão sempre em datas móveis, por estarem ligadas a Pentecostes que, por sua vez, liga-se à Páscoa.
Nos domingos, temos sempre três leituras, mas, raramente, acontece um casamento temático entre elas; apenas temos em oito domingos. Por outro lado, a primeira leitura e o Evangelho estão, na maioria das vezes, em relação. Tais textos deveriam ser resgatados durante a homilia na tentativa de ser uma base para a aplicação na vida prática dos fiéis, visto que toda ação litúrgica só atingirá a sua finalidade no momento que nos sentimos impelidos à conversão e às constantes experiências com Deus, senão ficaríamos, apenas, no aspecto teatral e rubricista.
Para os dias de semana, o lecionário ferial ou semanal, apresenta-nos uma leitura e o Evangelho, sem relação temática, sendo que a primeira leitura sugerida está dividida em anos pares e ímpares. Desta maneira, dá-se conta daquilo que foi sugerido na Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, Sacossanctum Concilium, ou seja, que os tesouros da Palavra de Deus sejam abertos amplamente aos fiéis (cf. SC 35ss).
A cor litúrgica desse tempo é o verde que nos lembra a esperança e a vida. O cristão, em seu cotidiano, vive na alegria de seu encontro definitivo com Cristo que em cada ação litúrgica já podemos contemplar. Essa é a nossa única esperança e ela não decepciona. Daí a importância da espiritualidade do Tempo Comum: alimentados pela seiva da encarnação do Senhor (Ciclo do Natal) e de sua redenção (Ciclo da Páscoa), aprofundamos e inserimo-nos nesse Mistério rumo à santidade. Tal aprofundamento se dá neste santo tempo litúrgico de lutas, esperanças e alegrias, rumo à Casa do Pai.
Dom Bruno Carneiro Lira, OSB
Membro da Comissão Arquidiocesana de Pastoral para a Liturgia