Na manhã da sexta-feira, 14/09/18, a Arquidiocese de Olinda e Recife amanheceu em clima de festa e preparada para comemorar a história de amor e dedicação que começou há 70 anos, protagonizada pelo sacristão Gilvan Pereira da Silva, funcionário que representa um verdadeiro tesouro para a Igreja local, pela sua dedicação, fidelidade e serviço qualificado. Vale destacar que a data em que sr. Gilvan completa 70 anos de admissão no serviço é 15 de setembro, mas a homenagem foi antecipada em um dia para reunir um número maior de funcionários da Cúria, de membros da Arquidiocese e familiares do colaborador. A homenagem surpresa aconteceu no palácio dos Manguinhos, nas Graças e contou com a cumplicidade dos familiares de seu Gilvan.  Todos foram chegando para agradecer a seu Gilvan pelos trabalhos prestados à Igreja, em Recife, pela sua fidelidade, seriedade e responsabilidade durante os 70 anos tecidos no amor e dedicação.

Seu Gilvan ao lado da esposa Lucineia

Mesmo debilitado, andando com bengala, o senhor Gilvan, desembarcou do carro e foi chegando para receber as homenagens que a Arquidiocese preparou, no Palácio dos Manguinhos, na manhã de 14 de setembro, para comemorar os 70 anos de trabalhos prestados à Igreja de Olinda e Recife. Para Gilvan, que não esperava esta homenagem, encantou a todos, pela sua alegria e felicidade em poder reviver os momentos fortes do seu trabalho, revendo as imagens de um vídeo que foi preparado e apresentado no hall do Palácio dos Manguinhos. Foi o local em que recebeu as homenagens do Arcebispo, dos padres, familiares e funcionários. Cercado de carinho e reconhecimento seu Gilvan deixava transparecer a alegria e a felicidade dos momentos, fruto de uma vida vividano zelo ao serviço de sacristão e copeiro na Arquidiocese de Olinda e Recife.  

Durante as homenagens, Dom Fernando Saburido, Arcebispo de Olinda e Recife, falou da importância dos trabalhos prestados à Igreja por Gilvan Pereira da Silva, “Foram 70 anos de trabalho, no mesmo lugar, onde podemos dizer que se distingui pela coerência em fazer sempre bem tudo o que faz, com muita responsabilidade, sem deixar para depois o que pode ser feito agora e de forma brilhante. Agradeço a Deus pelo modelo de exemplo, simplicidade e dedicação prestados à Arquidiocese de Olinda e Recife”. O Arcebispo dom Fernando Saburido entregou a seu Gilvan uma placa comemorativa como reconhecimento e gratidão pelos trabalhos prestados à Arquidiocese.

“A Arquidiocese possui 63 colaboradores e seu Gilvan é o mais idoso em atividade. É admirável a motivação do Seu Gilvan, 70 anos de muitas histórias. Não tenho dúvidas que ele ama o que faz e essa é a peça chave para sermos profissionais engajados e manter-nos motivados”, salienta Ingrid Caetano, coordenadora de Recursos Humanos da Arquidiocese. A trajetória de seu Gilvan nos inspira, pela dedicação, orgulho e respeito pela Instituição! Não poderíamos deixar esse momento tão especial passar em branco, ele merece toda a nossa gratidão e reconhecimento, conclui Ingrid.

O sacristão exerce um serviço precioso à Igreja, ainda que de forma tantas vezes oculta e humilde. Na vida paroquial, o sacristão exerce uma missão de apoio e serviço aparentemente simples, mas de grande relevância para os sacerdotes e para os fiéis. A Instrução Geral do Missal Romano explica que o sacristão também exerce uma função na liturgia mediante a organização cuidadosa dos livros litúrgicos, das vestes e de outros objetos e tarefas necessárias à celebração da Santa Missa. 

 

Gilvan da Sé – 70 anos dedicados a serviço de Deus

Natural de Bezerros, agreste de Pernambuco, Gilvan Pereira da Silva nasceu em 20 de junho de 1936, chegou ao Seminário de Olinda com apenas 12 anos, em 15 de setembro de 1948, pelas mãos do monsenhor Florentino, vigário de Bezerros, para trabalhar com o padre José de Sales Tiné. Inicialmente o jovem Gilvan teve como função inicial copeiro e logo em seguida auxiliar de serviço gerais. Este momento da chegada ao seminário é lembrado por seu Gilvan com muita emoção: “O sino do convento de São Francisco badalava precisamente 10 horas da manhã”, destacou. Nessa época o arcebispo vigente era dom Miguel de Lima Valverde e o reitor era padre Manoel Barreto.

Dentre as funções que o jovem Gilvan desempenhou no Seminário de Olinda, a última foi a administração de uma legião de seminaristas, de funcionários e toda a parte logística. Na década de 1970, por indicação de dom José Lamartine, bispo auxiliar à época, seu Gilvan passou também a cuidar da Catedral da Sé, onde está até os dias de hoje. Muitos brincam dizendo: “Ir na igreja da Sé, em Olinda, e não conhecer seu Gilvan, é mesmo que ir a Roma e não ver o Papa”.

Ao longo desses 70 anos de Arquidiocese, trabalhou com os arcebispos dom Miguel, dom Carlos, dom Helder Camara, com o bispo auxiliar dom Lamartine, com o arcebispo dom José Cardoso e atualmente com dom Fernando Saburido e seu auxiliar, dom Limacêdo Antônio.

Homem de confiança de dom Helder, foi designado na enchente da década de 1970 como funcionário responsável pelos donativos arrecadados para serem distribuídos à população recifense. Já na década de 1980, dom Helder o convocou a uma das funções de que mais se orgulha. Ficou sob sua responsabilidade a organização no Palácio dos Manguinhos, para acolher a chegada do papa São João Paulo II, em sua visita à capital pernambucana.

Várias histórias curiosas e engraçadas seu Gilvan construiu com dom Helder, como, por exemplo, o uso do báculo e da mitra. Essa história acontece numa noite de Natal, na Sé de Olinda. O Dom, como era conhecido pelos amigos mais próximos, recusou a usar o báculo e a mitra que seu Gilvan havia separado para uso naquela celebração. “Aliás nem báculo ele tinha”, afirmou o sacristão da Sé. “Quando ele precisava usar, pegava emprestado de dom Lamartine. Só usava báculo na marra”. Não satisfeito com a decisão, ele (Gilvan), continuou insistindo com dom Helder, que lhe respondeu pacientemente: “Não é preciso Gilvan, o Senhor já nasceu!”. Ainda não satisfeito, algum tempo depois, no Sábado de Aleluia, seu Gilvan, mais uma vez separou o báculo e a mitra, e ele mais uma vez respondeu: “O Senhor já ressuscitou, Gilvan. Ele está na glória eterna!”. Inconformado, o sacristão disse: “Desse jeito o senhor nunca vai usá-los. Uma vez porque ele nasceu e outra por ele já ressuscitou!”. Nesta hora, dom Helder deu uma risada e decidiu que, naquela noite, iria usar a mitra e o báculo pela primeira vez. “Desse dia em diante, se eu colocasse um paramento de estopa ou dourado a ouro, ele vestia calado. Não dizia nem que sim, nem que não”, relembra seu Gilvan, com muita alegria.

Esta é um pouco da história de seu Gilvan. Conforme relata a filha Jaqueline, hoje seu Gilvan sente-se realizado e agradecido a todos que contribuíram na construção desta jornada que sempre foi a serviço de Deus. Apesar das suas dificuldades físicas adquiridas com a idade, ele trabalha de domingo a domingo, com muito prazer e satisfação.

(Pascom Arquidiocese/Fotos: Ana Lúcia Andre Lima/Texto: Irmã Elide Maria Fogolari)