Um dos mais fervorosos pedidos de Cristo na oração foi que todos encontrem meios para superar as diferenças e promovam a unidade. A união é expressão do amor, enquanto a desunião é fruto do mal. No evangelho de João, Jesus repete por três vezes o mesmo pedido: “Pai que todos sejam um, como eu e Tu!” (cf. Jo.17, 21 ss). Em Pentecostes, quando veio o Espírito Santo sobre os discípulos, reunidos em Jerusalém, 50 dias após a ressurreição do Senhor, estavam presentes os Apóstolos, a Mãe de Jesus, e um bom número de outros, conforme a Sagrada Escritura ( cf. Atos dos Apóstolos, 1, 1 ss). A manifestação extraordinária do Espírito Santo era esperada, mesmo porque sua ordinária presença é uma realidade para aqueles que crêem. O Espírito Santo é força de unificação como expressa Paulo aos Coríntios: Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. (ICor.12,3). Após a extraordinária experiência mística daquela manhã, os Apóstolos saíram anunciando Jesus Cristo como Filho de Deus feito homem que fora morto pelo poder constituído, ressuscitara, estava vivo e não podia mais morrer. A informação bíblica diz que a pregação era tão convincente que cada um, mesmo estrangeiro, os entedia em sua própria língua. É a linguagem unificadora do amor autêntico, aquele que vem de Deus. Com o Pentecostes, nasce propriamente a Igreja fundada por Cristo. O Senhor já havia previsto isto aos discípulos quando, ressuscitado, sentou-se com eles à mesa mais uma vez e disse: recebereis o Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judéia e na Samaria e até as extremidades da terra. (At.1,8)

Hoje, após dois mil anos, contudo, os cristãos experimentam dolorosa desunião, organizados em várias igrejas e seitas. A realidade provoca preocupação a todos. Porém, há um consolo. Atualmente, os esforços em busca da unidade perdida são fortes; o diálogo entre os grupos abertos à compreensão é um fato. Na Europa e em outras partes do mundo, nesta semana de janeiro, se celebra a jornada de orações pela união dos cristãos. No Brasil, tal movimento é realizado, todos os anos, na semana que precede a festa de Pentecostes. Com orações pessoais, com a oração litúrgica são realizados encontros em igrejas de diferentes tradições por católicos e não católicos. O Conselho Mundial das Igrejas Cristãs e os Conselhos Nacionais, fundados por não católicos, conta com a participação efetiva da Igreja Católica e de várias outras Igrejas, num clima de serena e sincera fraternidade. Movimentos como o dos Focolares, a Comunidade de Tezé, Mofic e outros espalham o ideal da unidade desejada por Cristo, sempre com a humildade de reconhecer falhas humanas, mas muito mais voltados para aspectos comuns que mantém, ao menos parcialmente unidos, os atuais discípulos do Senhor.

A força do Espírito também garante aos cristãos que as adversidades provocadas pela iniqüidade não serão capazes de ameaçar a Igreja e muito menos a pessoa de Cristo, Filho de Deus, vencedor da morte. Ele já havia dito ao chefe dos Apóstolos: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt.16,18) Infelizmente, vez por outra, surgem na história vozes contrárias com objetivo de agredir, desvirtuar, confundir e não raro com o desejo de desconstruir o ideal do amor projetado pelo Pai, comunicado por Jesus. Não tenhamos medo. Um dos títulos do Espírito Santo é iluminador das mentes, luz dos corações. Seja Ele a claridade para todos, a fim que unidos propaguemos o bem e seja o mal vencido para sempre.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)